Texto II O Brasil era o último país do mundo ocidental a eliminar a
escravidão! Para a maioria dos parlamentares, que tinha se empenhado em favor da Abolição, a questão estava
encerrada. Os ex-escravos foram abandonados à sua
própria sorte. Caberia a eles, daí por diante, converter sua
emancipação em realidade. Se a lei lhes garantia o status
jurídico de homens livres, ela não lhes fornecia meios
para tornar sua liberdade efetiva. A igualdade jurídica não
era suficiente para eliminar as enormes distâncias sociais
e os preconceitos que mais de trezentos anos de cativeiro
haviam criado. A Lei Áurea abolia a escravidão, mas não
seu legado. Trezentos anos de opressão não se eliminam
com uma penada. A abolição foi apenas o primeiro passo
na direção da emancipação do negro. Nem por isso
deixou de ser uma conquista, se bem que de efeito
limitado.
(Emília Viotti da Costa. A abolição, 2008.)
Texto III O Brasil legado pela Abolição – racismo e propriedade
O fim do escravismo e a transição para o trabalho livre foi a maior transformação revolucionária no Brasil. E as marcas do
racismo permanecem como uma chaga social.
A Abolição resultou da maior campanha popular ocorrida o Brasil. Mas foi uma revolução que ficou pela metade porque a
oligarquia dominante conseguiu assumir o controle da mudança. Cedeu ante a perda inevitável, abriu mão de parte de sua
propriedade (os escravos), mas garantiu a posse daquele que, agora, era o principal meio de produção, a terra. (...)
A Abolição conduzida pela classe dominante escravista trouxe uma amarga vitória para os ex-escravos, mantendo marcas do
escravismo que, 130 anos após, permanecem na sociedade brasileira.
O escravo libertado pelo treze de maio não foi respeitado, pela classe dominante, como um cidadão com direitos iguais aos
demais membros da sociedade, mas como um meio cidadão que - trazendo na cor da pele a marca distintiva dos escravos –
está sempre sujeito à discriminação, à pobreza, à marginalidade. A ser detido pela polícia, como o liberto o era pelos capitães
de mato, sempre suspeito de ser escravo fugido.
E o topo da sociedade continua ocupado pelos descendentes da mesma classe dominante formada por escravistas,
latifundiários e donos do capital rentista e especulativo. E que são, pelo DNA social, reacionários e direitistas, portadores, os
principais fatores do atraso, da instabilidade política e da divisão que opõe aquela classe dominante ao povo brasileiro.
Texto IV Qualquer estudo sobre o racismo no Brasil deve começar por notar que, aqui, o racismo é um tabu. De fato, os brasileiros
imaginam que vivem numa sociedade onde não há discriminação racial. Essa é uma fonte de orgulho nacional, e serve, no
nosso confronto e comparação com outras nações, como prova inconteste de nosso status de povo civilizado.
(Antonio Sérgio Alfredo Guimarães. Racismo e anti-racismo no Brasil, 1999. Adaptado.)
PROPOSTA DE REDAÇÃO: A partir do material de apoio e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua
formação, redija um texto dissertativo-argumentativo, em norma padrão da língua portuguesa, sobre o tema: “O legado da escravidão no Brasil contemporâneo”. Apresente proposta de intervenção social que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de
maneira coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.