São Paulo, novembro de 2018 – A
desigualdade racial, infelizmente, ainda é uma realidade no Brasil. De acordo
com dados do Ministério do Trabalho*, um profissional negro recebe em média 47%
menos que um branco, na mesma função. (...) “Apesar do crescimento em
qualificação, a população negra com mesmo nível de estudo ainda recebe bem
menos. Nossa intenção é acabar com esse abismo e com as barreiras subjetivas
como o racismo para alertar as pessoas, principalmente os empregadores, que é
preciso continuar considerando a desigualdade racial um problema e buscar soluções para enfrentá-la”, explica Luana Génot, Diretora Executiva do Instituto
Identidades do Brasil.
(...) A Justiça que se pretende ao tentar reconstruir a sociedade por um
novo viés não é apenas a de saldar a dívida de uma escravidão mal abolida, mas também
a de tentar mudar o pensamento e a ação de uma sociedade que trata as
pessoas de forma desigual por conta da cor de pele. Ir contra a programação que
tivemos a vida inteira, por meia da família, dos amigos, da escola, da mídia (...)
é um processo longo, pelo qual todos nós temos de passar. Mas é necessário.
Todos nós, nascidos neste caldo social, somos potencialmente
idiotas – a menos que tenhamos sido devidamente educados para o contrário. Os que ofendem uma jornalista de forma tão aberta, como foi o caso da ofensa à apresentadora Maria Júlia Coutinho, da TV Globo, só fazem isso por estarem à
vontade com o anonimato (Hanna Arendt explica) e se sentirem respaldados por
parte da sociedade.
Toda vez que trato da questão da desigualdade
social e do preconceito que os negros e negras sofrem no Brasil (herança
cotidianamente reafirmada de um 13 de maio de 1888 que significou mais uma
mudança na metodologia de exploração da força de trabalho, pois não garantiu as
bases para a autonomia real dos ex-escravos e seus descendentes), sou linchado
– pois, como todos sabemos, não há racismo no Brasil. “Isso é coisa de negro
recalcado.”
A cada dez jovens que se suicidam no Brasil, seis
são negros. O dado, de 2016, está em um levantamento do Ministério da Saúde e da
UnB (Universidade de Brasília), divulgado no início de 2019. Entre 2012 e 2016,
a taxa de pessoas brancas entre 10 e 29 anos que tirou a própria vida
permaneceu. Já entre jovens e adolescentes negros ela subiu, de 4,88
mortes para cada 100 mil, em 2012, para 5,88, quatro anos depois.
“Um dos grupos vulneráveis mais afetados pelo
suicídio são os jovens e sobretudo os jovens negros, devido principalmente ao
preconceito, à discriminação racial e ao racismo institucional”, afirma o
estudo, baseado no Sistema de Informação sobre Mortalidade.
No Brasil, como nos Estados Unidos, há um movimento
que reivindica o reconhecimento do preconceito e da discriminação racial como
importantes causadores de problemas psíquicos. Trabalhos acadêmicos (...) listam
consequências como depressão, estresse e baixa autoestima entre os problemas
sofridos por quem é vítima constante não só da agressão racista aberta, mas também de
uma estrutura social e cultural em que o negro frequentemente aparece
inferiorizado.
A morte de George Floyd, que foi visto com um
policial ajoelhado no pescoço dele pouco antes de morrer, reacendeu o debate
sobre a brutalidade policial nos EUA. Homens negros têm quase três vezes mais
chances de serem mortos do que brancos, segundo estatísticas. Floyd, de 46
anos, que trabalhava como segurança em um restaurante em Minneapolis, foi
abordado por policiais que responderam a uma chamada de suspeita de uso de
documentos falsificados na noite de 25 de maio de 2020. Um vídeo de 10 minutos
filmado por uma testemunha mostra Floyd suplicando e dizendo repetidamente
"não consigo respirar" para um policial branco. (...) A morte de
Floyd chama atenção para estatísticas preocupantes sobre assassinatos cometidos
por policiais nos Estados Unidos. De acordo com um levantamento do jornal
Washington Post, 1014 pessoas foram mortas a tiros por policiais no país em
2019; estudos mostram que as principais vítimas foram americanos negros. Um
estudo da ONG Mapping Police Violence aponta que, nos EUA, negros têm quase
três vezes mais chances de serem mortos pela polícia do que brancos.
(...) trazer para dentro da escola modelos diversos
de identidade e cultura ajuda as crianças e os jovens a se enxergarem de modo
diferente daquela determinada de maneira perversa pelas condições
socioeconômicas. Dito de outro jeito: ajuda as crianças e jovens a construir
consciência, palavra que, no latim, significa ter conhecimento de si. Projetos
que valorizem a literatura negra, os artistas e a história africana na escola
podem ser um divisor de água para muitos jovens. Nunca é demais lembrar que a
lei obriga o ensino da cultura afro-brasileira nas escolas brasileiras.
PROPOSTA DE REDAÇÃO: A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo sobre o tema: “A persistência do racismo na sociedade contemporânea”. Apresente proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.