Neste artigo, vamos entender como se configura essa nova tendência pedagógica que é caracterizada pela dualidade entre escrever ou teclar. Os principais pontos de atenção estão concentrados na figura do gestor escolar. Além disso, elencamos as consequências desta tendência de digitalização da escrita para a correção de redação e para a redação do Enem.
Com o avanço da internet e, de modo geral, da computação, na virada do século XX para o XXI, somada à chegada dos smartphones modificaram radicalmente o modo como produzimos textos. A partir de uma linha cronológica é possível estabelecer o seguinte percurso – da carta ao e-mail, da máquina de escrever ao Word, do bilhete ao WhatsApp, das rodas de debate às redes sociais. Desse modo, o que já era uma tendência social transformou-se também em uma tendência pedagógica.
Mas como as escolas estão absorvendo essa nova realidade? Para essa pergunta não há uma única resposta, pois as realidades educacionais, sobretudo no Brasil, são tão variadas que a experiência educacional assume formas distintas.
Foram selecionados três fatores, que em alguma medida sintetizam o assunto e geram preocupações devido a esta nova tendência pedagógica: 1) certas experiências de produção textual costumam ser artificiais, especialmente quando buscam reproduzir, de forma ainda muito precária, a experiência da vida real do estudante; 2) o acesso a ferramentas tecnológicas mais avançadas permanece restrito a uma ínfima minoria; 3) apesar de os estudantes já serem nativos digitais, isso não significa dizer que eles dominem por completo as ferramentas de escrita digital. Por isso, a necessidade de a escola trabalhar para o desenvolvimento dessa competência.
Assim, podemos afirmar que a digitalização da escrita é uma tendência pedagógica em ascensão na escola, até mesmo em função dos efeitos da Pandemia. Contudo, essa realidade ainda terá de superar desafios não só referentes à adesão de alunos e familiares, mas também relativos à formação e à adesão dos professores.
É importante que o gestor escolar tenha em mente que a a tendência de digitar em vez de escrever à mão gera consequências cognitivas e vários estudos já vêm demonstrando isso. Por exemplo, já se sabe que escrever à mão estimula o cérebro de forma diferente de quando digitamos, sobretudo no que se refere à memória. Para crianças em fase de alfabetização, essa é uma questão ainda mais relevante, pois a escrita à mão auxilia no desenvolvimento motor e ajuda na consciência fonológica. O registro à mão também se mostrou mais eficaz como prática de estudos. Estudantes que anotam em papel conseguem apreender melhor o conteúdo do que aqueles que fazem notas digitais.
Ao contrário do que apontam as pesquisas, o ideal não parece ser se colocar em oposição à tendência de digitalização da escrita, até mesmo porque a própria experiência de produção de textos na escola não pode ser totalmente artificial ou distante da realidade dos estudantes. Mais do que isso, se percebermos o texto digital como uma ferramenta a mais e nos valermos tanto da experiência de produção manuscrita quanto da digitada, essa combinação parece ser a melhor conduta por parte da escola. Desse modo, surge a necessidade de haver um alinhamento a uma nova tendência pedagógica que permitirá ao estudante transitar entre o papel e a tela.
Portanto, cabe ao gestor escolar dirigir esse processo de transição, garantindo que cada ferramenta seja utilizada no momento certo e da forma correta. Bem como, evita-se que as tendências pedagógicas se transformem em modismos sem sentido ou mesmo em experiências nocivas.
Estimular que os alunos digitem ou forçar que eles escrevam à mão? Quais impactos o formato de produção pode trazer para a correção de redação? Uma nova tendência pedagógica deve nos levar à reflexão sobre as suas consequências.
Se considerarmos o fato de que a correção de um texto deve observar o propósito para o qual ele foi produzido, então o formato da produção pode ter um impacto relevante nessa tarefa. Por exemplo, se estamos tratando de redações feitas como preparação para o ENEM, então o ideal é que elas ainda fossem manuscritas. Este ainda é o melhor método para sinalizar aquilo que o estudante deverá aperfeiçoar para a realização do Exame.
Por outro lado, se estivermos falando de estudantes do 6º ano do Ensino Fundamental Anos Finais, em uma turma em que o professor esteja trabalhando com o gênero e-mail, faz muito mais sentido se essa produção puder ser realizada em um ambiente virtual. Isso vai permitir ao aluno simular uma experiência muito mais próxima da realidade do seu cotidiano.
Em quaisquer das circunstâncias, contudo, deve-se observar que, se utilizarmos uma tarefa de produção de redação como avaliativa, então todo o contexto de produção precisa estar conectado com os objetivos de aprendizagem a serem avaliados, independentemente de qualquer tendência pedagógica que se imponha. De outra forma, tratando-se de avaliação escolar, não podemos sobrepor o “o que avaliar” ao “como avaliar”. Essas duas faces da moeda precisam trabalhar juntas, em prol do processo de ensino-aprendizagem.
O Enem sofrerá alterações nos próximos anos, o que tem correlação com 2 elementos. O primeiro deles é a modificação na estrutura curricular ocorrida com o Novo Ensino Médio. Isso fará com que a prova tenha de se adaptar ao modelo flexível que vigorará a partir de 2022.
Em outra ponta, desde 2020 o INEP já vem colocando em prática o Enem Digital. Por ora, temos apenas a realização em um dispositivo digital da mesma prova que ocorre em papel, mas, no futuro, a ideia é que o Exame seja um Teste Adaptativa Computadorizado, CAT, na sigla em inglês.
Independentemente das tendências em avaliação educacional apontadas acima, a redação do Enem deverá manter a produção de texto manuscrito por mais algum tempo. Sendo assim, a produção digitada ganhará os holofotes a partir do mesmo em que pudermos avaliarmos os textos por meio de inteligência artificial, ou seja, sem a intervenção humana.
Ao fim deste texto, a produção de textos em formato digitado na escola nos parece uma tendência pedagógica a qual não se deve reprimir. Contudo, isso também não deve implicar em desaparecimento imediato do texto manuscrito. O ritmo e a intensidade dessa transição, assim como seus limites, precisam ser definidos pelo projeto pedagógico escolar. O pior cenário será aquele em que as coisas ocorrerem sem planejamento.
Para auxiliar o gestor escolar, sugerimos que essa prática seja colocada em debate na comunidade escolar. Envolver os professores é o primeiro passo. Depois, é importante definir os rumos, lançando metas e objetivos justificados pelas conclusões que o trabalho de debate inicial trará para a instituição. Por fim, o plano precisa ser bem divulgado à comunidade escolar. A boa execução de uma estratégia passa por fazer com que os envolvidos saibam das vantagens e dos objetivos, bem como dos desafios e das dificuldades que se esperam até que o objetivo seja alcançado.
Assim, pense menos que exista uma forma certa de encarar essa nova tendência pedagógica configurada pela dualidade entre escrever ou teclar. Em vez disso, procure a forma como a sua escola deseja se posicionar diante desse fato. Isso, sim, trará importantes resultados para o processo de ensino-aprendizagem.
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