A indústria da moda e a sustentabilidade ambiental são temas que, embora muitas vezes negligenciados, possuem uma relevância crescente no cenário contemporâneo. A ameaça ao meio ambiente, exacerbada pela atuação de grandes empresas do setor fashion, torna-se uma questão urgente a ser discutida. Esse tópico, além de ser de interesse geral, é potencialmente um excelente tema para a redação do ENEM, pois dialoga diretamente com os direitos e deveres de cidadania e a necessidade de um desenvolvimento sustentável. A análise crítica da relação entre moda e sustentabilidade não só enriquece o repertório sociocultural dos estudantes, como também promove uma reflexão necessária sobre os impactos ambientais e sociais dessa indústria.
A redação do ENEM, estruturada no formato de dissertação argumentativa, é avaliada com base em cinco competências fundamentais, cada uma valendo até 200 pontos, totalizando 1000 pontos. Entender essas competências é crucial para obter uma boa pontuação.
Competência 1: Domínio da Norma Culta
O domínio da norma culta é a primeira competência a ser avaliada. Isso inclui a correção ortográfica, a morfologia, a sintaxe de concordância e regência, além do uso formal do idioma. É importante lembrar que o uso de palavras difíceis não é sinônimo de boa escrita. A clareza e a correção são mais valorizadas do que o emprego de termos complexos que possam dificultar a compreensão do texto pelo leitor.
Competência 2: Compreensão do Tema, Atendimento ao Tipo Textual e Repertório Sociocultural
A segunda competência avalia a compreensão do tema proposto, o atendimento ao tipo textual (dissertação argumentativa) e a utilização de um repertório sociocultural pertinente. É crucial não tangenciar o tema, ou seja, não abordar o assunto de maneira superficial ou fora do recorte temático específico. Para evitar isso, recomenda-se utilizar palavras-chave do tema ao longo do texto e buscar sinônimos para evitar repetições. O repertório sociocultural deve dialogar diretamente com o tema, incorporando noções e conteúdos de diversas áreas do conhecimento.
Competência 3: Seleção, Organização e Relação de Argumentos
A terceira competência verifica a capacidade do candidato de selecionar, organizar e relacionar argumentos de maneira coerente e pertinente ao tema. A estrutura do texto deve ser organizada, com uma introdução que apresente o tema e a tese, seguida de parágrafos de desenvolvimento que explorem os argumentos e um parágrafo final que apresente a proposta de intervenção social.
Competência 4: Mecanismos de Coesão
A quarta competência avalia o uso adequado dos mecanismos de coesão, como conjunções, pronomes e preposições, tanto entre os parágrafos (coesão interparágrafos) quanto dentro dos parágrafos (coesão intraparágrafo). A habilidade de evitar repetições e construir períodos bem estruturados, tanto simples quanto compostos, é essencial para garantir a fluidez e a clareza do texto.
Competência 5: Proposta de Intervenção Social
A quinta competência exige uma proposta de intervenção social que apresente soluções para o problema discutido. A proposta deve incluir uma ação, um agente, o modo ou meio de execução e a finalidade, além de um detalhamento de pelo menos um desses elementos. Propostas genéricas e engessadas devem ser evitadas; o ideal é elaborar soluções específicas e direcionadas às causas e consequências discutidas no texto.
Neste segundo bloco, a discussão se aprofunda no tema central: A indústria da moda frente à sustentabilidade ambiental. Este recorte temático exige uma análise crítica sobre como a produção e o consumo de moda impactam o meio ambiente e quais medidas podem ser adotadas para mitigar esses efeitos.
Definição do Tema
A indústria da moda engloba a criação, produção e comercialização de roupas e acessórios, incluindo bolsas, calçados, cintos, entre outros. Por outro lado, a sustentabilidade ambiental refere-se ao uso responsável dos recursos naturais para garantir sua disponibilidade para as futuras gerações. Este conceito está ancorado na ideia de que o crescimento econômico e o progresso social devem ser compatíveis com a preservação do meio ambiente.
O tema proposto revela uma situação-problema: a moda é um dos grandes vilões da sustentabilidade ambiental. A produção desmedida de roupas, calçados e acessórios resulta na contaminação e no esgotamento dos recursos naturais do planeta. Portanto, é essencial que tanto os gigantes da moda quanto os consumidores sejam conscientizados sobre os impactos ambientais dessa indústria.
Repertório Sociocultural
Para enriquecer a discussão, é importante mobilizar um repertório sociocultural relevante. Dada a abrangência do tema, pode ser desafiador encontrar um repertório que contemple simultaneamente moda e sustentabilidade. No entanto, é possível focalizar uma dessas vertentes.
1. Legislação Ambiental: A Constituição Federal do Brasil, em seu artigo 225, estabelece que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo.” Esta legislação é um excelente ponto de partida para discutir a responsabilidade coletiva na preservação ambiental.
2. Cultura e Mídia: O filme “O Diabo Veste Prada” oferece uma visão crítica das dinâmicas internas da indústria da moda e das questões éticas subjacentes ao glamour das passarelas. Este longa-metragem pode ser utilizado para ilustrar a pressão por novidades constantes e o impacto disso na sustentabilidade.
3. Teoria Sociológica: O conceito de modernidade líquida, do filósofo e sociólogo Zygmunt Bauman, pode ser aplicado para analisar a moda sob a ótica do efêmero e do transitório. A fast fashion, ou moda rápida, exemplifica a descartabilidade de roupas e acessórios, o que se contrapõe à sustentabilidade.
Formulação da Tese
Com o tema e o repertório sociocultural delineados, é necessário formular uma tese que sintetize o ponto de vista a ser defendido ao longo do texto. A tese deve ser clara e direta, indicando a necessidade de conscientização tanto dos gigantes da moda quanto dos consumidores sobre os impactos ambientais dessa indústria.
Tese: É preciso que não só os gigantes da moda como também os próprios consumidores sejam conscientizados a respeito do quanto as passarelas têm custado à sustentabilidade do planeta.
Ao estruturar a redação com uma introdução que apresente o tema, um repertório sociocultural que enriqueça a discussão e uma tese clara, o candidato estará bem preparado para desenvolver argumentos consistentes e propor soluções viáveis para o problema apresentado.
Neste terceiro bloco, a argumentação será desenvolvida com base em três causas e duas consequências que evidenciam o impacto negativo da indústria da moda sobre a sustentabilidade ambiental. A partir dessa análise, será possível compreender a gravidade do problema e a urgência de soluções eficazes.
Causa 1: Emissão de Carbono e Consumo de Água
A produção em série de roupas e acessórios é responsável por aproximadamente 10% das emissões globais de carbono, tornando a indústria da moda uma das maiores poluidoras do planeta. Além disso, essa indústria é a segunda maior consumidora de água, perdendo apenas para a agricultura. De acordo com dados do Banco Mundial de 2019, a fabricação de uma única calça jeans pode consumir até 10.000 litros de água, enquanto a produção de uma camiseta pode demandar 2.700 litros. Esses números alarmantes revelam o impacto ambiental significativo da moda rápida (fast fashion), que prioriza a produção em massa e o consumo acelerado.
Causa 2: Uso de Materiais Não Sustentáveis
Cerca de 60% das roupas são fabricadas com fibras sintéticas, como o poliéster, que levam centenas de anos para se decompor. Esse material, ao ser descartado, contribui significativamente para a poluição do solo e dos oceanos. Nos Estados Unidos, estima-se que cerca de 85% das roupas produzidas anualmente acabem em aterros sanitários ou incineradores, conforme dados da Agência de Proteção Ambiental americana. Esse descarte massivo de roupas não só polui o meio ambiente, mas também desperdiça recursos valiosos.
Causa 3: Produção Predatória
A produção predatória é outra causa significativa do impacto ambiental da indústria da moda. Além do consumo excessivo de água, a fabricação de roupas envolve o uso de produtos químicos tóxicos no tingimento e tratamento de tecidos, que contaminam corpos d’água e solos. Segundo a Unesco, cerca de 20% das águas residuais do planeta têm origem no tingimento e no tratamento de tecidos. Esse processo não apenas polui o meio ambiente, mas também representa um risco à saúde das comunidades locais.
Consequência 1: Esgotamento de Recursos Naturais e Poluição
O esgotamento dos recursos naturais é uma consequência direta das práticas insustentáveis da indústria da moda. O cultivo de algodão, por exemplo, ocupa aproximadamente 2,5% da área cultivada no mundo, mas utiliza 16% dos inseticidas fabricados globalmente. Além disso, a indústria da moda contribui significativamente para as emissões de gases de efeito estufa, comparáveis às emissões de voos internacionais. Esse cenário evidencia a necessidade urgente de práticas mais sustentáveis e responsáveis.
Consequência 2: Trabalho Análogo ao de Escravo e Exploração de Mão de Obra Infantil
A exploração de mão de obra barata e as condições de trabalho precárias são consequências sociais graves da indústria da moda. Em países em desenvolvimento, muitos trabalhadores enfrentam jornadas exaustivas e ambientes insalubres. Um relatório de 2018 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) estimou que cerca de 170 milhões de crianças estavam empregadas, muitas delas na indústria da moda, em completo descaso com a legislação pertinente. Esses trabalhadores, muitas vezes, são submetidos a condições análogas à escravidão, evidenciando a urgência de intervenções que garantam condições de trabalho dignas e seguras.
A partir dessa análise das causas e consequências, fica evidente que a indústria da moda, em sua forma atual, representa uma ameaça significativa à sustentabilidade ambiental e social. Portanto, é imperativo que medidas sejam adotadas para mitigar esses impactos e promover um futuro mais sustentável e justo. No próximo bloco, serão apresentadas propostas de intervenção para enfrentar esses desafios.
Neste quarto e último bloco, serão apresentadas propostas de intervenção para mitigar os impactos negativos da indústria da moda sobre a sustentabilidade ambiental. As ações a seguir são direcionadas tanto aos gigantes do setor quanto aos consumidores, com o objetivo de promover práticas mais responsáveis e sustentáveis.
Fomento às Tecnologias Verdes
Uma das principais ações para reduzir o impacto ambiental da indústria da moda é o fomento às tecnologias verdes. Isso inclui o desenvolvimento e a utilização de tecidos biodegradáveis e reciclados, que minimizam o desperdício e a poluição. Além disso, a implementação de processos de tingimento ecológicos que economizem água e a adoção de energia renovável na produção de moda são medidas essenciais. O Ministério do Meio Ambiente, em parceria com organizações como o Greenpeace, pode liderar campanhas de incentivo e regulamentação dessas práticas, promovendo um setor mais sustentável.
Reciclagem e Reutilização de Roupas e Tecidos
A reciclagem e a reutilização de roupas e tecidos são estratégias eficazes para reduzir o impacto ambiental da moda. O conceito de upcycling, ou reutilização criativa, inspira-se na economia circular, que busca minimizar o desperdício e maximizar a utilização dos recursos naturais. Consumidores podem ser incentivados a reciclar suas roupas, optar por peças de segunda mão e apoiar marcas que adotam práticas sustentáveis. O Greenpeace, com sua expertise em campanhas ambientais, pode colaborar na conscientização dos consumidores sobre a importância dessas práticas.
Educação e Conscientização
A educação e a conscientização são fundamentais para promover mudanças duradouras. Campanhas educativas podem ser implementadas para informar o público sobre os impactos ambientais e sociais da moda rápida. Escolas e universidades podem incluir em seus currículos temas relacionados à sustentabilidade e ao consumo consciente. Além disso, a mídia e as redes sociais podem ser utilizadas para disseminar informações e engajar a população em práticas mais sustentáveis.
Regulamentação e Fiscalização
A regulamentação e a fiscalização são essenciais para garantir que as práticas sustentáveis sejam adotadas pela indústria da moda. Governos e organizações internacionais devem estabelecer normas rigorosas para a produção e o descarte de roupas e acessórios. A fiscalização deve ser intensificada para assegurar que essas normas sejam cumpridas, combatendo o trabalho análogo ao de escravo e a exploração da mão de obra infantil. O Ministério do Meio Ambiente, em colaboração com outras agências governamentais e organizações não governamentais, pode desempenhar um papel crucial nesse processo.
Incentivos Econômicos
Incentivos econômicos podem ser oferecidos às empresas que adotam práticas sustentáveis. Isso pode incluir subsídios para o desenvolvimento de tecnologias verdes, isenções fiscais para empresas que utilizam materiais reciclados e programas de financiamento para iniciativas sustentáveis. Esses incentivos podem estimular a inovação e a adoção de práticas mais responsáveis, promovendo um setor de moda mais sustentável.
Parcerias e Colaborações
Parcerias e colaborações entre governos, empresas, organizações não governamentais e consumidores são essenciais para enfrentar os desafios da sustentabilidade na moda. Iniciativas conjuntas podem ser desenvolvidas para promover a pesquisa e o desenvolvimento de soluções inovadoras, compartilhar melhores práticas e criar uma cultura de sustentabilidade. O Greenpeace, com sua experiência em campanhas ambientais, pode atuar como um facilitador dessas parcerias, promovendo a colaboração entre diferentes setores.
Consumo Consciente
Por fim, o consumo consciente é uma peça-chave na promoção da sustentabilidade. Consumidores devem ser encorajados a comprar apenas o necessário, optar por roupas de qualidade e duráveis, e evitar a moda rápida. A escolha de marcas comprometidas com práticas sustentáveis pode fazer uma diferença significativa. Campanhas de conscientização podem destacar a importância de escolhas informadas e responsáveis, incentivando um comportamento de consumo mais sustentável.
Em conclusão, a indústria da moda enfrenta desafios significativos em termos de sustentabilidade ambiental e social. No entanto, com a implementação de tecnologias verdes, a promoção da reciclagem e reutilização, a educação e conscientização, a regulamentação e fiscalização, os incentivos econômicos, as parcerias e colaborações, e o consumo consciente, é possível mitigar esses impactos e promover um futuro mais sustentável. A responsabilidade é compartilhada entre governos, empresas e consumidores, e a ação coletiva é essencial para garantir a sustentabilidade do planeta.
Caso queiram conhecer, já está disponível no site uma dissertação modelo sobre esse tema.
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