A convivência pacífica entre diferentes gerações é um tema de extrema relevância e atualidade, que dialoga diretamente com questões sociais, culturais e familiares. Esse assunto, que transcende classes sociais, religiões e ideologias políticas, é também um potencial tema para a redação do ENEM, dado seu impacto na formação de cidadãos conscientes e empáticos. Conflitos intergeracionais são recorrentes e, muitas vezes, desafiadores, exigindo abordagens inteligentes e sensíveis para serem solucionados. Compreender as causas e consequências dessas desarmonias, bem como propor soluções eficazes, é essencial para a construção de uma sociedade mais harmoniosa e inclusiva.
Para muitos estudantes, a redação do ENEM é uma das etapas mais desafiadoras do exame. Compreender as competências avaliadas e como elas são aplicadas é fundamental para alcançar uma boa pontuação. A redação do ENEM é uma dissertação argumentativa que deve ser desenvolvida com base em cinco competências específicas, cada uma valendo até 200 pontos, totalizando 1000 pontos.
1. Domínio da Norma Culta da Língua Portuguesa
A primeira competência avalia o domínio da norma culta da língua portuguesa. Isso inclui ortografia, morfologia, sintaxe de concordância e regência, além do uso formal do idioma. É importante evitar coloquialismos, gírias e cacoetes da linguagem. A escrita deve ser clara e correta, sem a necessidade de empregar palavras difíceis ou rebuscadas.
2. Compreensão do Tema, Atendimento ao Tipo Textual e Repertório Sociocultural
A segunda competência avalia a capacidade do candidato de compreender o tema proposto, atender ao tipo textual (dissertação argumentativa) e utilizar um repertório sociocultural pertinente. É crucial não tangenciar ou fugir do tema. Tangenciar o tema significa abordar um assunto relacionado, mas não exatamente o recorte temático proposto. Para evitar isso, recomenda-se utilizar palavras ou expressões-chave do tema em cada parágrafo, procurando sinônimos para evitar repetições. Além disso, a dissertação argumentativa deve conter informações que fundamentem as argumentações, utilizando referências históricas, literárias, sociológicas e artísticas que dialoguem com o tema.
3. Seleção, Organização e Relação de Argumentos
A terceira competência verifica a capacidade do candidato de selecionar, organizar e relacionar argumentos de modo coerente e pertinente ao tema. Isso inclui a escolha de fatos, causas, consequências e exemplificações bem conectadas ao tema. A organização do texto deve seguir uma estrutura lógica: introdução, desenvolvimento e conclusão. Na introdução, o tema deve ser apresentado, antecipando-se pelo menos dois argumentos e a tese. Nos parágrafos de desenvolvimento, os argumentos lançados na introdução devem ser explorados, incluindo o repertório sociocultural pertinente. A conclusão deve apresentar a proposta de intervenção social.
4. Recursos Coesivos
A quarta competência avalia o uso adequado dos recursos coesivos. A coesão pode ser interparágrafos, conectando os parágrafos entre si, ou intraparágrafo, conectando as ideias dentro de um mesmo parágrafo. É importante evitar repetições e construir parágrafos com mais de uma frase, para que a ideia principal não se perca.
5. Proposta de Intervenção Social
A quinta competência exige uma proposta de intervenção social detalhada, que responda às perguntas: o que deve ser feito para resolver o problema? Quem deve fazer? Como deve ser feito? Para que deve ser feito? É importante evitar intervenções genéricas e pouco detalhadas. A proposta deve ser específica e direcionada às causas e consequências apresentadas no texto.
O recorte temático deste post é “Convivência pacífica – caminhos para a solução de conflitos entre as diferentes gerações”. Este é um tema que exige uma abordagem cuidadosa e embasada, pois trata de um problema que afeta inúmeras famílias e comunidades ao redor do mundo. Para abordar este tema de forma eficaz, é fundamental utilizar um repertório sociocultural pertinente e legitimado, que contribua para a construção de argumentos sólidos e coerentes.
Apresentação do Tema
O conflito entre gerações não é um fenômeno novo. Desde os tempos antigos, diferenças de opinião, valores e comportamentos entre jovens e idosos têm gerado tensões. Um exemplo clássico pode ser encontrado nas palavras do filósofo grego Sócrates, que em 399 a.C. já criticava a juventude de sua época por sua falta de respeito pela autoridade e pelos mais velhos. Esta citação histórica nos mostra que os conflitos intergeracionais são atemporais e universais.
Para trazer o tema para a contemporaneidade, podemos citar Marshall Rosenberg, psicólogo norte-americano e criador da Comunicação Não-Violenta (CNV). Rosenberg dedicou sua vida a desenvolver métodos para melhorar a comunicação e resolver conflitos de maneira pacífica. Sua abordagem enfatiza a empatia, a escuta ativa e a expressão honesta dos sentimentos, elementos essenciais para a convivência harmoniosa entre diferentes gerações.
Repertório Sociocultural
Além de Rosenberg, há outros repertórios socioculturais que podem enriquecer a discussão sobre conflitos intergeracionais. A música “Pais e Filhos”, da banda Legião Urbana, é um exemplo marcante que aborda a incompreensão mútua entre pais e filhos. A letra da música ressalta que “você diz que seus pais não o entendem, mas você não entende seus pais”, destacando a necessidade de diálogo e compreensão mútua.
Outro exemplo relevante é a obra “Minha Mãe é uma Peça”, do ator e humorista Paulo Gustavo. O filme retrata de forma cômica e ao mesmo tempo tocante as dificuldades e os desafios da convivência entre uma mãe autoritária e seus filhos adultos. A personagem Dona Hermínia, com seu autoritarismo caricato, nos faz refletir sobre a linha tênue entre autoridade e autoritarismo nas relações familiares.
Por fim, podemos mencionar Mahatma Gandhi, com sua filosofia da resistência não violenta. Gandhi acreditava que a verdadeira força reside na capacidade de resolver conflitos sem recorrer à violência, um princípio que pode ser aplicado às relações intergeracionais para promover a paz e a compreensão.
Tese
Com base nesses repertórios, podemos formular a seguinte tese: “Quando o assunto envolve comportamento, a educação e a comunicação não violenta devem ser priorizadas, sob pena de retrocessos irreparáveis na dinâmica sociofamiliar.” Essa tese enfatiza a importância de métodos educacionais e comunicativos que promovam a empatia e o respeito mútuo, evitando assim os conflitos que podem levar a consequências negativas para todos os envolvidos.
Uma das principais causas dos conflitos entre gerações é a falta de compreensão sobre a diferença entre autoridade e autoritarismo. Esses conceitos, embora frequentemente confundidos, são distintos e têm impactos diferentes nas relações familiares.
A autoridade está ligada à capacidade, conhecimento e liderança inspiradora. É uma qualidade que se conquista por meio do respeito e da admiração. No contexto familiar, a autoridade parental refere-se ao conjunto de direitos e deveres dos pais em relação aos filhos, visando ao seu desenvolvimento integral. Uma figura de autoridade é aquela que serve de exemplo e inspiração, promovendo um ambiente de respeito mútuo.
Por outro lado, o autoritarismo está associado à coerção, intimidação e centralização de poder. É uma forma de controle que suprime liberdades individuais e impede o diálogo. No ambiente familiar, o autoritarismo pode levar à obediência e submissão, mas à custa do medo e da opressão. Esse tipo de comportamento gera ressentimento e revolta, alimentando os conflitos intergeracionais.
Uma das consequências mais preocupantes é o desenvolvimento de transtornos psicológicos. A falta de diálogo e a presença constante de hostilidade podem levar a problemas como ansiedade, depressão e estresse. Quando pais e filhos não conseguem se entender, a dinâmica familiar se torna insustentável, prejudicando o bem-estar emocional de todos os envolvidos.
Outra consequência significativa é o isolamento social. Jovens que se sentem incompreendidos e reprimidos em casa podem buscar refúgio fora do ambiente familiar, muitas vezes encontrando acolhimento em grupos que não são benéficos para seu desenvolvimento. Isso pode levar a comportamentos de risco, como o envolvimento com drogas, delinquência e até prostituição.
Além disso, a falta de harmonia familiar pode resultar no abandono de idosos. Em muitos casos, os conflitos levam ao distanciamento entre pais e filhos, deixando os mais velhos desamparados e solitários. Esse abandono emocional e físico agrava a vulnerabilidade dos idosos, que já enfrentam desafios relacionados ao envelhecimento.
A adolescência prolongada, ou o fenômeno do “filho-canguru”, é outra consequência dos conflitos intergeracionais. Nesse cenário, jovens adultos continuam a depender dos pais para suporte financeiro e emocional, sem buscar a independência. Isso pode gerar frustrações e ressentimentos de ambos os lados, dificultando ainda mais a convivência pacífica.
Para superar os conflitos entre diferentes gerações e promover uma convivência pacífica, é necessário adotar estratégias e ações concretas que envolvam educação, comunicação e empatia. Veja um exemplo de proposta de intervenção:
Portanto, para a superação desses conflitos, é fundamental que o MEC, por meio da parceria com mídias de longo alcance – internet, rádio, TV – implemente ações educativas, a exemplo de campanhas, como a patrocinada pela montadora Ford, que teve por bem homenagear o amor entre pais e filhos, com a finalidade de sensibilizar as famílias a respeito de outros recursos, como leituras eficientes sobre a Comunicação Não-Violenta. Isso feito, a teoria proposta pelo psicólogo norte-americano não ficará restrita aos livros, mas acenará em favor de relações parentais pacíficas, empáticas e afetuosas. Afinal, “ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”, já dizia Elis Regina.
Caso queiram conhecer, já está disponível no site uma dissertação modelo sobre esse tema.
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