Bem-vindos ao Podcast Redigir! Esta série especial de episódios tem como propósito preparar os alunos de modo muitíssimo eficiente para o Concurso Público Nacional Unificado (CNU), conhecido como o ENEM dos Concursos.
Confiram o episódio!
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Olá, pessoal! Seja muito bem-vindo ao Podcast Redigir. Aqui, Gislaine Buosi, escritora e professora de Redação.
No episódio de hoje, vamos abordar, em especial, a redação do CNU – Concurso Público Nacional Unificado – já conhecido como o ENEM dos Concursos.
“LETRAMENTO RACIAL” é o assunto sobre o que discutiremos – e, sem dúvida, é potencial à redação do CNU – um assunto de viés sociopolítico, que impacta, especialmente, a educação – e quando se fala em educação, ao puxarmos um fio, chegamos à formação cidadã, condição sem a qual não há de se falar no equilíbrio da sociedade, mas sim no seu contrário: na desarmonia, no adoecimento social. Vamos conferir tudo isso juntos, daqui a pouquinho, porque…
Deixa-me primeiro dizer a vocês que vou dividir esse episódio em dois blocos: no primeiro, faço algumas considerações sobre a redação do Concurso – quero dar a vocês um norte a respeito dos critérios de avaliação. No segundo bloco, apresento o tema, os argumentos, a tese e alguns caminhos para promoverem ou, pelo menos, incentivarem o letramento racial.
Nesse primeiro bloco, ressalto que o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos lançou, no final de 2023, uma estratégia revolucionária para a seleção de servidores: o Concurso Público Nacional Unificado. Parabéns à essa iniciativa governamental!
E a melhor notícia é a de que o CNU contempla a escrita de um texto, que será avaliado em até 100 pontos.
Consta no edital que o número de linhas será conhecido no enunciado da redação. Vamos, desse modo, pensar no limite-padrão – um texto entre 20 e 30 linhas; quatro parágrafos – um parágrafo para a introdução, dois para o desenvolvimento e um para a conclusão.
Recolhi para vocês, do edital do CNU, os 5 critérios de avaliação do texto, quais sejam: adequação ao tema; atendimento ao tipo; mecanismos de coesão; seleção e organização de argumentos e domínio da norma culta.
No primeiro critério – ADEQUAÇÃO AO TEMA: todo o cuidado para não fugirmos, nem tangenciarmos o tema – e, para não incidirmos em nenhum desses erros, o ideal é que utilizemos, em cada um dos parágrafos, pelo menos uma vez, a palavra ou a expressão-chave; para não cometermos repetições, procuremos palavras ou expressões sinônimas. Rapidamente, é de todo importante frisarmos a diferença entre fugir e tangenciar o tema: foge do tema o candidato que não focaliza nem o assunto mais abrangente, nem o recorte temático propostos; por seu turno, tangencia o tema o candidato que aborda o assunto mais abrangente, e não, necessariamente, o recorte. Nesse tema específico, qual seja, o letramento racial – ferramenta democrática para acabar com o racismo. Percebam: o recorte temático não é racismo; o que está sendo proposto aqui é, digamos, o remédio, a ferramenta antirracista, e não a doença, ou seja, não o racismo. O candidato que abordar exclusiva ou até mesmo predominantemente as causas e as consequências do racismo, sem dúvida, tangenciará o tema. Por sua vez, o candidato que abordar, por exemplo, o racismo sofrido por Víni Jr., no Real Madri, sem que, ao longo do texto, sejam estabelecidos vínculos/conexões seguros com o letramento racial, é certo, fugirá do tema.
No segundo critério – ATENDIMENTO AO TIPO: muita atenção ao gênero e ao tipo de texto propostos – provavelmente, uma dissertação argumentativa e, como vocês já sabem, a dissertação argumentativa é um texto híbrido, quer dizer, misturado: há trechos informativos – por exemplo: abordagens históricas, datas, nomes, estatísticas, a partir dos quais se faz a argumentação propriamente dita. As informações fundamentam, sustentam as argumentações. Mas cuidado: o texto pronto deve ser predominantemente argumentativo – quer dizer: deve conter mais argumentação do que informação.
No terceiro critério – MECANISMOS DE COESÃO: aqui é posta à prova a habilidade do candidato em empregar os recursos coesivos, quais sejam, as conjunções, os pronomes, as preposições. E quando se fala em coesão, é muito comum o candidato pensar que, se houver conjunção no início do segundo, do terceiro e do quarto parágrafos, esteja tudo resolvido. Alto lá! Na verdade, nossa atenção deve se voltar a dois tipos de coesão: a interparágrafos e a intraparágrafo. A coesão interparágrafos é exatamente essa que acabamos de mencionar, é a coesão avaliada na superfície do texto; a coesão intraparágrafo é aquela que acontece dentro do parágrafo – verifica-se o emprego correto de conectores entre as palavras e entre os períodos que compõem o parágrafo. Nesse critério confere-se também a capacidade do candidato em escrever sem incidir em repetições. Vamos lembrar de um outro detalhe, muitíssimo importante: não devemos construir parágrafos de uma só frase – quando isso acontece, o parágrafo torna-se labiríntico, ou seja, a ideia principal vai se perdendo em meio a tantas intercalações. Só mais uma coisinha, ainda nesse critério: o corretor pretende encontrar períodos simples (formados por apenas uma oração) e períodos compostos por coordenação ou subordinação (ou seja, períodos formados por mais de uma oração).
No quarto critério, o corretor avalia a capacidade do candidato para SELECIONAR, ORGANIZAR E RELACIONAR, DE MODO COERENTE, ARGUMENTOS PERTINENTES AO TEMA. Percebam que esse critério é bem complexo: quando se fala em “selecionar e relacionar”, fala-se na escolha de repertórios e argumentos – causas, consequências, exemplificações, citações… – obviamente bem conectadas, bem relacionadas, quer dizer, pertinentes ao tema; quando se fala em “organizar”, fala-se da harmonia, do corpo do texto – começo, meio e fim. Temos uma estratégia para sugerir a vocês:
. no primeiro parágrafo, apresentem o tema, antecipem, pelo menos, dois argumentos, e escrevam a tese – tese é o ponto de vista do dissertador. O primeiro parágrafo, ou seja, a introdução, funciona como o projeto do texto.
. no segundo e no terceiro parágrafos desenvolvam, explorem os argumentos lançados na introdução.
. no último parágrafo, obviamente, finalizem o texto – cabem aqui, por exemplo, a reafirmação da tese e a retomada (bem sintética) das principais ideias do texto, ou até mesmo apontamentos que solucionem eventuais situações então discutidas.
No quinto critério – DOMÍNIO DA MODALIDADE ESCRITA FORMAL – nossas aulas de gramática devem vir à tona. Avaliam-se a ortografia, a morfologia, a sintaxe de concordâncias, de regências, além da escolha de palavras formais, que se contrapõem aos coloquialismos, às gírias e aos cacoetes da linguagem. Pessoal, quando falamos da escrita formal, que não entendamos que devemos empregar palavras difíceis – não, definitivamente, não. O emprego de palavras difíceis, ao contrário do que possa parecer, significa anacronismo, significa escrita prolixa, empoeirada, por vezes até muito pouco clara – e lembrem-se: a escrita formal não deve fugir do universo vocabular do leitor a que se destina – o escritor não pode obrigar o leitor a consultar um dicionário a cada linha que lê – isso não vai acontecer. Com palavras simples, conhecidas, acessíveis é possível escrever períodos elegantes. O segredo da boa escrita está na correção, e não na escolha de palavras cujos significados não sejam imediatamente conhecidos.
Nesse segundo bloco, apresento a vocês o tema, qual seja: Letramento racial – ferramenta democrática para acabar com o racismo; apresento também os argumentos, a tese e alguns caminhos a serem percorridos para o letramento racial.
Percebam a sutileza do recorte – antes mesmo de revisitar um problema, qual seja, o racismo, o tema, de certo modo, impõe uma solução: o letramento racial. Aqui, é de todo coerente aceitarmos esse posicionamento, ampliarmos o alcance dele, tornarmos o letramento racial factível.
Gislaine, no primeiro parágrafo, para fazer a apresentação do tema, a gente pode ocupar o próprio recorte?
Não, claro que não. Podemos parafraseá-lo, quer dizer, podemos escrever algo parecido, mas não igual. O que devemos fazer é mobilizar as palavras ou as expressões-chave do recorte – não vamos deixar nenhuma para trás – e então construímos a apresentação do tema.
Quais são as palavras ou as expressões-chave desse recorte?
Letramento racial – ferramenta democrática – acabar – racismo
Gislaine, e o que é letramento racial?
Boa pergunta. Essa expressão foi utilizada pela primeira vez por uma socióloga afro-americana, em 2003 – em seguida, foi traduzida para o português, e então passamos, academicamente, a empregá-la – até porque, convenhamos, a expressão se autoexplica, não é mesmo? Mas, devo admitir que ela ainda não esteja popularizada – não falamos habitualmente no “letramento racial”. Tá. É, sim, uma boa estratégia apresentarmos o tema por meio da definição.
Assim:
O letramento racial envolve a habilidade de discernir criticamente as dinâmicas raciais, identificando os efeitos do racismo nas mais diferentes esferas sociais, e tem por objetivo capacitar indivíduos a agirem de modo consciente na promoção de uma sociedade mais justa.
Apresentado o tema, vamos aos argumentos.
Gislaine, existe um pulo do gato para levantarmos argumentos?
Sim, existe – e esse pulo do gato depende do nível de conhecimento de vocês; falo de conteúdos apreendidos dentro e fora de sala de aula. O pulo do gato é a seguinte: transformem o recorte em uma pergunta. Assim: O letramento racial é a ferramenta para acabar com o racismo? E, em seguida, surgirão outras, surgirão inúmeras perguntas: Por quê? Como isso pode acontecer? Onde isso já aconteceu? Quais os caminhos percorridos para que isso acontecesse? Quais estudos evidenciam esse fenômeno?
Percebam que, lançadas as perguntas, a depender do nível de conhecimento de vocês, surgirão as respostas. Costumo chamar essa estratégia de “operação puxa-ideias” – é como se personalizássemos o tema, e passássemos a entrevistá-lo. As respostas encontradas são, potencialmente, argumentos a serem explorados.
Levantei 5 argumentos – ouçam todos e, então, selecionem, pelo menos, dois para escreverem a dissertação. O ideal é que sejam escolhidos argumentos menos comuns – mas, claro, procurem desenvolver os itens sobre os quais vocês tenham mais segurança para discutir.
1. Estudiosos catalogam o racismo – fala-se hoje em racismo estrutural, institucional, recreativo, ambiental etc., etc.; contudo, a única medida para erradicá-lo é a educação antirracista.
2. O letramento racial há de ser objeto de formação continuada para docentes, a fim de que se crie um ambiente inclusivo, participativo e antirracista em sala de aula, que, acima de tudo, é o berço da civilidade. (Civilidade, aqui, no sentido amplo, qual seja, o conjunto de normas para uma convivência pacífica e organizada.)
3. O letramento racial como pressuposto a políticas públicas afirmativas de engajamento das sociedades – civil, estudantil, religiosa, artística etc., etc. – afinal, os direitos humanos hão de saltar dos papéis e tornar realidade entre nós, a fim de que não se perpetuem as desigualdades.
4. O letramento racial como estratégia de empoderamento político – essa expressão nem sempre é compreendida – o empoderamento político diz respeito à capacidade de pessoas poderem participar ativamente do processo político, que envolve o exercício de direitos, entre os quais: votar, candidatar-se a cargos políticos; ser ouvido pelos governantes – será que o povo, que elege vereadores, prefeitos, deputados, senadores e até mesmo o presidente da república, será que o povo tem acesso àqueles que elegeu, ou esse acesso é seletivo? Falo aqui, então, do empoderamento político, por meio do letramento racial, com vista a fortalecer a cidadania e a garantir a voz de todos os cidadãos para reivindicar coisas, fiscalizar situações, tomar decisões etc., etc.
5. O letramento racial capaz de descortinar, ou seja, de esclarecer que a discriminação racial abarca não apenas de pessoas negras – indígenas e asiáticos também estão na mira daqueles que, professam a branquitude ou seja, a supremacia branca – e aqui é possível levantar as noções de raça ariana – noções, hoje, criminosas, ainda que haja quem não dê importância a comportamentos racistas, que haja quem até deboche da situação, que a considere como, simplesmente, um adoecimento social. Só um detalhe, para conhecimento de vocês: o colegiado do STF – ou seja, os ministros do Supremo Tribunal Federal, entende que manifestações transfóbicas e homofóbicas também estejam inseridas no crime de racismo.
E agora a tese, que é o ponto de vista a ser defendido ao longo das argumentações. A tese é esta: O letramento chega a fim de não só proclamar a democracia racial, como também desfazer padrões de pensamento arraigados em modelos escravagistas, que têm perpetuado a desigualdade social.
No final desse segundo bloco, deixo sugestões para a solução do problema que nos foi colocado:
Oportunidade para diálogo e conscientização: Iniciativas como a “Semana da Consciência Negra” e as campanhas do “Novembro Negro” buscam promover o diálogo e a reflexão sobre o racismo no Brasil – ocasião ideal para que a bandeira do letramento racial seja levantada.
E, por último, pensando em um viés mais holístico, digo, integral, aceno em favor de maior representatividade, em especial, de mulheres não brancas nas três esferas de poder – Legislativo, Judiciário e Executivo, quer seja nos municípios, nos estados, no Distrito Federal ou na União – parece-me muito claro que, havendo essa maior representatividade, os reflexos serão sentidos também na Educação. Aqui, a máxima há de ser alcançada: a lição dos exemplos vale mais que a dos conselhos. É inegável: ao se pretender erradicar o preconceito por meio do letramento racial, as primeiras iniciativas devem ser dos poderes da república.
Então é isso! Feitas essas considerações, sugiro que, se for preciso, ouçam novamente o podcast, leiam não só o material de apoio, como também outros conteúdos sobre o tema, antes de escreverem a dissertação (clique aqui).
Também convido vocês a assinarem o podcast da Plataforma Redigir.
Caso queiram conhecer, já está disponível no site uma dissertação modelo sobre esse tema.
Um abraço, excelentes redações! Até o próximo episódio!
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