Bem-vindos ao Podcast Redigir! Esta série especial de episódios tem como propósito preparar os alunos de forma abrangente para o Concurso Público Nacional Unificado (CNU), conhecido como o ENEM dos Concursos. No episódio de hoje, a professora Gislaine Buosi se aprofundará no tema do saneamento básico, destacando sua relevância sociopolítica e os impactos diretos na saúde. Ao longo do episódio, serão abordados os critérios de avaliação da redação, fornecendo uma orientação valiosa. No segundo bloco, Gislaine explorará o tema, apresentando argumentos, teses e possíveis soluções para a questão sanitária. Finalmente, no terceiro bloco, os ouvintes terão a oportunidade de absorver as práticas discutidas através da leitura de uma dissertação modelo. Esta iniciativa da Redigir busca enriquecer a preparação dos estudantes para o CNU, proporcionando insights cruciais sobre a redação e temas relevantes.
Confiram o episódio!
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Olá, pessoal! Seja muito bem-vindo ao Podcast Redigir. Aqui, Gislaine Buosi, escritora e professora de Redação.
No episódio de hoje, vamos abordar, em especial, a redação do CNU – Concurso Público Nacional Unificado – já conhecido como o ENEM dos Concursos.
Saneamento básico é o assunto sobre o qual discutiremos – o que, sem dúvida, é potencial à redação do CNU – um assunto de viés sociopolítico, que impacta a saúde, o orçamento. Vamos conferir tudo isso juntos, daqui a pouquinho, porque…
Deixa-me primeiro dizer a vocês que vou dividir esse episódio em três blocos: no primeiro, faço algumas considerações sobre a redação do Concurso – quero dar a vocês um norte a respeito dos critérios de avaliação. No segundo bloco, apresento o tema, os argumentos, a tese e alguns caminhos para resolverem a questão sanitária. No terceiro e último bloco, leio uma dissertação modelo.
Nesse primeiro bloco, digo a vocês que o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos lançou, no final de 2023, uma estratégia revolucionária para a seleção de servidores: o Concurso Público Nacional Unificado. Parabéns à essa iniciativa governamental!
E a melhor notícia é a de que o CNU contempla a escrita de um texto, que será avaliado em até 100 pontos. Redação de quantas linhas, Gislaine?
Consta no edital que o número de linhas será conhecido no enunciado da redação. Vamos, desse modo, pensar no limite-padrão – um texto entre 20 e 30 linhas; quatro parágrafos – 1 parágrafo para a introdução, 2 para o desenvolvimento e 1 para a conclusão.
Recolhi do edital do CNU pra vocês os 5 critérios de avaliação do texto, quais sejam: adequação ao tema; atendimento ao tipo; mecanismos de coesão; seleção e organização de argumentos e domínio da norma culta.
Aproveito para fazer algumas ressalvas sobre os critérios – acredito que cada um deles seja avaliado em até 20 pontos:
No primeiro critério – ADEQUAÇÃO AO TEMA: todo o cuidado para não tangenciarmos, nem fugirmos do tema – e, para não incidirmos em nenhum desses erros, o ideal é que utilizemos, em cada um dos parágrafos, pelo menos uma vez, a palavra ou a expressão-chave; por sua vez, para não cometermos repetições, procuremos palavras ou expressões sinônimas.
No segundo critério – ATENDIMENTO AO TIPO: muita atenção ao gênero e ao tipo de texto propostos – provavelmente uma dissertação argumentativa e, como você já sabe, a dissertação argumentativa é um texto híbrido, quer dizer, misturado: há trechos informativos – sobretudo recortes históricos, datas, nomes, estatísticas – a partir dos quais se faz a argumentação propriamente dita. As informações fundamentam, sustentam as argumentações. Mas cuidado: o texto pronto deve ser predominantemente argumentativo – quer dizer: deve conter mais argumentação do que exposição.
No terceiro critério – MECANISMOS DE COESÃO: aqui é posta à prova a habilidade do candidato em empregar os recursos coesivos, quais sejam, as conjunções, os pronomes, as preposições. E quando se fala em coesão, é muito comum o candidato pensar que, se houver conjunção no início do segundo, do terceiro e do quarto parágrafos, está tudo resolvido. Alto lá! Na verdade, nossa atenção deve se voltar a dois tipos de coesão: a interparágrafos e a intraparágrafo. A coesão interparágrafos é exatamente essa que acabamos de mencionar, é a coesão avaliada na superfície do texto; a coesão intraparágrafo é aquela que acontece dentro do parágrafo – verifica-se o emprego correto de conectores entre as palavras e entre os períodos que compõem o parágrafo. Nesse critério confere-se também a capacidade de o candidato escrever sem incidir em repetições. Vamos lembrar de um outro detalhe, muitíssimo importante: não devemos construir parágrafos de uma só frase – quando isso acontece, o parágrafo torna-se labiríntico, ou seja, a ideia principal vai se perdendo em meio a tantas intercalações. Só mais uma coisinha, ainda nesse critério: o corretor pretende encontrar períodos simples (formados por apenas uma oração) e períodos compostos por coordenação ou subordinação (ou seja, períodos formados por mais de uma oração).
No quarto critério, o corretor avalia a capacidade do candidato em SELECIONAR, ORGANIZAR E RELACIONAR, DE MODO COERENTE, ARGUMENTOS PERTINENTES AO TEMA PROPOSTO. Percebam que esse critério é bem complexo: quando se fala em “selecionar e relacionar”, fala-se na escolha de repertórios e argumentos – causas, consequências, exemplificações, citações etc., etc. – obviamente bem conectadas, quer dizer, pertinentes ao tema; quando se fala em “organizar”, fala-se da harmonia, do corpo do texto – começo, meio e fim – aqui temos uma estratégia para sugerir a vocês:
. no primeiro parágrafo, apresentem o tema, antecipem, pelo menos, dois argumentos e escrevam a tese – tese é o ponto de vista do dissertador. O primeiro parágrafo, ou seja, a introdução, funciona como o projeto do texto.
. no segundo e no terceiro parágrafos desenvolvam, explorem os argumentos lançados na introdução.
. no último parágrafo, obviamente, finalizem o texto – cabem nessa conclusão, por exemplo, a reafirmação da tese e a retomada (bem sintética) das principais ideias do texto, ou até mesmo uma sugestão para a solução do problema enfrentado.
No quinto critério – DOMÍNIO DA MODALIDADE ESCRITA FORMAL – nossas aulas de gramática devem vir à tona. Avaliam-se a ortografia, a morfologia, a sintaxe de concordância, de regência, além do uso formal do idioma, que se contrapõe aos coloquialismos, às gírias e aos cacoetes da linguagem.
Nesse segundo bloco, apresento a vocês o tema, os argumentos, a tese e alguns caminhos a serem percorridos para a solução do problema.
Então vamos lá – o recorte temático é: Caminhos para a universalização do saneamento básico no Brasil – questão de cidadania.
Percebemos, logo de cara, que o tema exige “soluções”, “caminhos para…” E então a pergunta que vocês me fazem é: Gislaine, a gente tem de escrever apenas sobre os caminhos, quer dizer, a gente tem de escrever quatro parágrafos com propostas de solução para a falta de saneamento básico?
Não. Ao longo dos quatro parágrafos, vamos apresentar o tema, problematizá-lo – quer dizer, vamos levantar, por exemplo, causas e consequências, discuti-las, e só então vamos sugerir caminhos, só então vamos solucionar a questão que nos foi colocada. Atenção ao que dissemos a respeito do quarto critério – seleção e organização de argumentos.
Gislaine, no primeiro parágrafo, para fazer a apresentação do tema, a gente pode ocupar o próprio recorte?
Não, claro que não. Podemos parafraseá-lo, quer dizer, escrever algo parecido, mas não igual. O que devemos fazer é mobilizar as palavras-chave do recorte, não vamos deixar nenhuma para trás, e então construímos a apresentação do tema.
Quais são as palavras-chave desse recorte?
Caminhos – universalização – saneamento básico – Brasil – cidadania
A apresentação do tema deve ser o primeiro contato do escritor com o leitor – o quanto antes o leitor souber do que se trata o texto, melhor. Procure, então, apresentar o tema logo nas primeiras linhas.
Alguns dados recolhidos do material de apoio podem nos ajudar a apresentar o tema. Assim:
O saneamento básico é mais do que uma infraestrutura essencial: é um pilar de cidadania e dignidade. No Brasil, a universalização desse serviço ainda é um desafio, haja vista os 100 milhões de brasileiros sem coleta de esgoto, além dos 35 milhões sem acesso à água tratada – isso, segundo registros do Instituto Trata Brasil, datados de 2022.
Também podemos apresentar o tema por meio da definição – vejam só:
O saneamento básico compreende os serviços de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgotos; limpeza urbana, coleta e destinação do lixo; drenagem e manejo da água das chuvas. No Brasil, a universalização sanitária ainda é um desafio ao pleno exercício da cidadania.
Tema apresentado. Vamos aos argumentos, listo aqui 7 argumentos – escolham, pelo menos 2 – ouçam todos, e depois escolham aqueles sobre os quais vocês tenham mais segurança para escrever.
1. Desigualdades regionais e doenças relacionadas à falta de saneamento básico: as desigualdades socioeconômicas e infraestruturais refletem as disparidades regionais. Norte e Nordeste enfrentam os maiores desafios, uma vez que têm a menor cobertura de serviços e, consequentemente, os maiores índices de doenças, tais como cólera, hepatite A, leptospirose, febre tifoide, doenças diarreicas, dengue etc.
2. Tratamento de esgoto insuficiente e escassez de água: a maior parte do esgoto gerado no Brasil não é tratada adequadamente, antes de ser descartada. Muitas cidades ainda contam com sistemas de esgoto precários, o que provoca a poluição de rios, lagos e praias. Isso interfere no turismo? Sim, claro! E na Saúde Pública também, o que ainda é pior. E com referência à água – olha só – apesar de o Brasil deter uma das maiores reservas de água doce do mundo, ainda há regiões que enfrentam a escassez de água.
3. Desídia, quer dizer, desatenção à legislação e aos direitos humanos: a legislação é sempre um excelente repertório… A Constituição Federal de 1988 faz várias referências à garantia do saneamento básico, como um direito social. : um trecho da lei que vale a pena ser lembrado é esse: “compete à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico”.
4. Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável – essa agenda, que ficou conhecida como um guia para o desenvolvimento sustentável, foi firmada em 2015, por todos os países-membro da ONU (em 2015 eram 193 países; hoje são 195). Nessa agenda, os 193 países reconheceram a urgência da erradicação da pobreza, em todas as suas formas e dimensões, e estabeleceram metas para que, então, essa mazela social fosse superada; consta nesse mesmo texto que a água potável e o saneamento básico sejam pressupostos dos direitos humanos.
5. Marco do saneamento básico no Brasil, sancionado em 2020, com objetivo de universalizar e qualificar a prestação de serviços no país, que ainda tem indicadores bastante precários de atendimento e qualidade no saneamento básico.
6. Investimentos da iniciativa privada – aqui as opiniões se dividem: há defensores de parcerias público-privadas para que sejam levantados investimentos em benefício das agendas sanitárias, e há também os opositores, que, baseados em relatos de países que já percorreram esse caminho, alegam que a privatização não passa de uma falácia, uma vez que a iniciativa privada, como ensina a lógica do mercado, visa ao lucro, e não garante maior acesso nem aumento de investimento no setor, muito menos a melhoria nas condições para as camadas mais vulneráveis da população. Percebam que é possível escrever toda uma dissertação sustentada apenas por esse argumento – investimentos da iniciativa privada –, e, se argumento for o escolhido por vocês, o projeto de texto está desenhado: pontos favoráveis e pontos contrários à parceria público-privada para a solução do saneamento básico. Sugiro, nesse caso, mais leitura acerca disso e, claro, um posicionamento bastante firme, na tese de vocês.
7. Falta de vontade política para enfrentar e acabar, de vez, com o problema, até porque esse item – infraestrutura sanitária – é bandeira de campanhas eleitorais e, sem dúvida, angaria votos da população que, à mercê dessa infraestrutura, acredita nas providências então prometidas a cada pleito eleitoral.
E agora a tese, que é o ponto de vista a ser defendido ao longo das argumentações. A tese é esta: É tempo de o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional atentar às prerrogativas da lei, com políticas públicas mais assertivas, a fim de que a infraestrutura sanitária seja universalizada.
No final desse segundo bloco, deixo a sugestão de um caminho para a solução do problema:
Com menos de 50% da população beneficiada por serviços de coleta de esgoto, o Brasil caminha a passos lentos rumo à meta de tornar o saneamento básico universal. Um dos caminhos para mudar essa realidade inclui a parceria da União com o setor privado, o que, inclusive, é defendido por um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), intitulado “Comparações Internacionais: Uma agenda de soluções para os desafios do saneamento brasileiro”.
Só para conhecimento de vocês, a pesquisa aponta que países exemplares no quesito “saneamento” – Alemanha, Inglaterra e Chile – contam majoritariamente com operadoras particulares de água e esgoto.
Um outro detalhe – na tese, sobre a qual falamos agora há pouco, como que antecipamos a proposta de solução, quando mobilizamos o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional – convém que, adotada essa tese, o ministério seja mencionado na conclusão – “… a atuação do ministério é o caminho para…”.
Terceiro e último bloco, leitura da redação de Gislaine Buosi:
Uma realidade distópica fica evidente quando se discute a crise do saneamento básico no Brasil, um país que detém 12% de toda a água doce do planeta, e que, apesar disso, conta aproximadamente 100 milhões de pessoas sem acesso à coleta de esgoto e 35 milhões sem acesso à água tratada – esses números foram relevados em 2022, pelo Instituto Trata Brasil, na 14ª edição do Ranking do Saneamento. Dois motivos, em especial, embargam a solução do problema: a insuficiência de investimentos adequados e sustentáveis, e a desatenção à legislação, o que tem levado pessoas à doenças e até mesmo à morte. Sem dúvida, os direitos humanitários estão passando de largo.
Nesse sentido, é indiscutível a situação de vulnerabilidade social, que grassa o país. A Organização Mundial da Saúde, em relatório firmado em 2020, estimou que anualmente 15 mil pessoas morram e 350 mil sejam internadas no Brasil devido a doenças ligadas à precariedade do saneamento básico. É certo que quando a União, os Estados, o Distrito Federal ou os Municípios, por quaisquer motivos, procrastinam as medidas para a efetivação da infraestrutura sanitária, deixam a população suscetível a doenças e à estagnação social, pressupostos para a perpetuação da pobreza, da exclusão e da mortalidade. É preciso, nesse ínterim, anotar o total descaso com os direitos assegurados constitucionalmente, entre os quais a moradia, com condições dignas de habitação, daí implicado o saneamento – isso é garantia para o exercício pleno da cidadania.
Historicamente, o Brasil, apesar de ser uma das maiores economias do mundo, está na retaguarda do desenvolvimento, se comparado a outros países, no que seja pertinente aos serviços sanitários mais básicos. Segundo dados recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS), na América Latina, países como Chile e Uruguai têm demonstrado melhores índices de cobertura desses serviços. O Chile, em particular, alcançou quase a universalização do acesso à água potável e ao tratamento de esgoto, graças a um modelo de gestão eficiente e a investimentos da iniciativa privada, o que deve, havendo vontade política, ser absorvido por nós, brasileiros, a fim de que compromissos e metas já firmados – por exemplo o Marco do Saneamento, de 2020 – possam ser atingidos.
Desse modo, é necessário que haja uma mudança de paradigma, a fim de que a vontade política e a alocação de investimentos sejam vistas como imperativas para o bem-estar social e o crescimento sustentável. Ações governamentais coordenadas, parcerias público-privadas e planejamento estratégico devem ser mobilizados para acelerar o processo de universalização do saneamento. Além disso, a participação da sociedade civil é fundamental não só para requerer mudanças, como também para fiscalizar a aplicação de recursos financeiros, o que, em tese, garantirá a execução das construções sanitárias. Isso feito, haverá transformação da realidade distópica do Brasil, país que teima em se firmar “de todos”.
Então é isso! Feitas essas considerações, sugiro que, se for preciso, ouçam novamente o podcast, leiam não só o material de apoio, como também outros conteúdos sobre o tema, antes de escreverem a dissertação (clique aqui).
Também convido vocês a assinarem o podcast da Plataforma Redigir.
Um abraço! Excelentes redações, e até o próximo episódio!
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