EM - ARTIGO DE OPINIÃO - MODELO UNICAMP - DESLIZAMENTOS EM PETRÓPOLIS
UNICAMP
DESLIZAMENTOS E MORTES NA REGIÃO SERRANA DO RIO
ARTIGO DE OPINIÃO – UNICAMP, ADAPTADO
ID: GIS
Texto 1
Os dias escuros
Carlos Drummond de Andrade
Amanheceu um dia sem luz – mais um – e há um grande silêncio na rua.
Chego à janela e não vejo as figuras habituais dos primeiros trabalhadores. A
cidade, ensopada de chuva, parece que desistiu de viver. Só a chuva mantém
constante seu movimento entre monótono e nervoso. É hora de escrever, e não
sinto a menor vontade de fazê-lo. Não que falte assunto. O assunto aí está,
molhando, ensopando os morros, as casas, as pistas, as pessoas, a alma de todos
nós. Barracos que se desmancham como armações de baralho e, por baixo de seus
restos, mortos, mortos, mortos. Sobreviventes mariscando na lama, à pesquisa de
mortos e de pobres objetos amassados. Depósito de gente no chão das escolas, e
toda essa gente precisando de colchão, roupa de corpo, comida, medicamento. O
calhau solto que fez parar a adutora. Ruas que deixam de ser ruas, porque não
dão mais passagem. Carros submersos, aviões e ônibus interestaduais
paralisados, corrida a mercearias e supermercados como em dia de revolução. O
desabamento que acaba de acontecer e os desabamentos programados para daqui a
poucos instantes. Este, o Rio que tenho diante dos olhos, e, se não saio à rua,
nem por isso a imagem é menos ostensiva, pois a televisão traz para dentro de
casa a variada pungência de seus horrores. Sim, é admirável o esforço de todo
mundo para enfrentar a calamidade e socorrer as vítimas, esforço que chega a
ser perturbador pelo excesso de devotamento desprovido de técnica. (...)
(Correio da Manhã, 14/01/1966.)
Texto 2
Subiu para 232 o número
de mortos devido à forte chuva do dia 15 de fevereiro em Petrópolis, na região
serrana do Rio de Janeiro. (...) Segundo a prefeitura, até o momento, 210
vítimas da chuva foram sepultadas no Cemitério do Centro. Nesta quarta-feira
(2), os militares do Corpo de Bombeiros atuam nas localidades do Morro da
Oficina, Chácara Flora e ao longo do Rio Quitandinha, localidades onde procuram
por cinco desaparecidos. Até o momento, 1.117 pessoas estão em abrigos. O
acolhimento da população afetada se distribui em pontos de apoio da prefeitura,
que são escolas públicas, hoje com 955 pessoas, e locais estruturados de forma
voluntária pelas comunidades, em igrejas, organizações não governamentais
(ONGs) e demais entidades, que têm 162 abrigados.
Onze anos após o temporal
que deixou 918 mortos, a Região Serrana do Rio ainda não recebeu boa parte do
dinheiro prometido para prevenção a novas tragédias. De R$ 987,6 milhões
empenhados pelo Ministério do Desenvolvimento Regional na ocasião para obras de
manejo de águas pluviais apenas R$ 53 milhões foram pagos até hoje – e R$ 11,6
milhões só foram repassados nos últimos três anos para obras de drenagem
urbana.
18.fev.2022. https://www.istoedinheiro.com.br/maior-parte-da-verba-federal-para-evitar-nova-tragedia-nao-foi-usada/.
Acesso em 21.mar.2022.
Texto 4
O subprocurador-geral do Ministério Público junto ao
TCU (Tribunal de Contas da União), Lucas Furtado, protocolou hoje um pedido
para que o tribunal abra apuração sobre possível má aplicação de recursos do
governo federal para conter os efeitos das chuvas sazonais que castigam o
município de Petrópolis (RJ) há mais de 10 anos. "O Poder Executivo
petropolitano talvez não esteja fazendo uso adequado e regular dos recursos
federais que lhe têm sido transferidos ou colocados à sua disposição para serem
empregados em obras e serviços que efetivamente sirvam a evitar ou minimizar os
efeitos desastrosos das chuvas sobre o município", observa o
subprocurador.
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2022/02/18/petropolis-mp-no-tcu-pede-apuracao-sobre-uso-de-verba-para-conter-tragedia.htm.
Acesso em 21.mar.2022.
COMANDO: Após a leitura dos textos de apoio (o
primeiro escrito a partir de situações ocorridas em 1966 e os demais, em 2022),
redija um Artigo de Opinião, em cujo texto você faça um paralelo entre a situação da região serrana do estado do Rio à época de Drummond e a dos dias atuais.