EM - DISSERTAÇÃO - MODELO FUVEST - ENFRENTAMENTO DO LUTO
FUVEST
ENFRENTAMENTO DO LUTO
MODELO FUVEST
ID: H6Z
Texto I
O que é o luto?
Segundo John
Bowlby, o luto é um processo natural que ocorre em reação a um rompimento de
vínculo. Dessa forma, o processo de luto abarca situações relacionadas ao
contexto de perda em geral, seja o falecimento de um ente querido, a mudança de
um papel social ou a perda de uma possibilidade de futuro. É a sensação de que
“algo nos foi tirado” – algo que era tão nosso e que não deveria ter sido
tomado de nós. (...) Um levantamento recente sobre o tema, diante de outros
surtos de doenças infecciosas, como a cólera e o ebola, aponta que o isolamento
dos doentes e a impossibilidade de realizar os rituais pós-morte específicos a
cada cultura causam impacto negativo no processo de luto de uma comunidade.
Ainda não temos estudos robustos sobre o real efeito do novo coronavírus nesse
quesito e no chamado luto complicado — quando esse processo se torna um
problema de saúde. Mas algumas pesquisas sugerem um aumento na intensidade e no
prolongamento dos sintomas vivenciados pelo luto. Não dizemos adeus da mesma
forma que antes. Não temos mais o olho no olho que acolhe e diz que,
independentemente do que acontecer, ficaremos ao seu lado. Como familiares, a
sensação de impotência é devastadora. Aos profissionais de saúde, cabe o
desafio de viabilizar a manutenção da saúde mental e a dignidade dos pacientes
e familiares ao criar estratégias para o contato remoto por meio de chamadas de
vídeo ou áudio, cartas… A inovação e a humanização também são ferramentas do
cuidar. (...) Os rituais fúnebres desempenham um papel importantíssimo nesse
contexto, com todas as suas variabilidades sociais, históricas e culturais. Com
as diretrizes mundiais para evitar a contaminação nesse momento — e entre os
trabalhadores dos diferentes serviços funerários — mais uma vez somos
desafiados a nos reinventar. Podemos, por exemplo, garantir que os rituais de
despedidas sejam mantidos por meios remotos de encontro e comunicação. (...) E
não devemos nos esquecer que o processo do morrer interfere no enfrentamento do
luto. Uma morte em meio à restrição de recursos terapêuticos, com sofrimento —
o que pode acontecer em regiões onde há perda do controle do coronavírus — é
mais difícil de processar.
Muitas vezes me perguntaram se, com tantas perdas Brasil afora, nós estaríamos experimentando um luto coletivo. Sempre achei que não: estamos sim, coletivamente em luto, mas é diferente. Luto coletivo não me parece ser quando muitos de nós lamentamos nossas mortes ao mesmo tempo, e sim quando todos compartilham uma dor em comum.
Talvez seja isso que tenha ocorrido com a morte do Paulo Gustavo. Com sua simpatia, ele cativava o país inteiro. (...) Sua morte aglutina, de alguma maneira, todas as outras, nos levando, agora sim, a um luto coletivo: todos juntos lamentando a mesma perda. (...)
Não há fórmulas para lidar com o luto. Mas, além de lamentarmos sua partida, é importante que celebremos toda alegria que ele nos trouxe. É a melhor maneira de honrarmos sua história.
BARROS, Daniel Martins de. Disponível em: https://www.terra.com.br/diversao/cinema/morte-de-paulo-gustavo-simboliza-o-sofrimento-de-um-pais-inteiro,613ab6cc35792ecd0edb0e0e5d23d330ba3gqvao.html. Acesso em 6.jul.2022.
Somos muitos
Severinos/ iguais em tudo na vida:/ na mesma cabeça grande/ que a custo é que
se equilibra,/ no mesmo ventre crescido/ sobre as mesmas pernas finas,/ e
iguais também porque o sangue/ que usamos tem pouca tinta./ E se somos
Severinos/ iguais em tudo na vida,/ morremos de morte igual,/ mesma morte
Severina:/ que é a morte de que se morre/ de velhice antes dos trinta/ de
emboscada antes dos vinte,/ de fome um pouco por dia.
MELO NETO, J. C. Obra completa. Rio Janeiro: Nova Aguilar, 1994
(fragmento). Acesso em 31.out.2022.
PROPOSTA
DE REDAÇÃO: Considerando as ideias apresentadas
nos textos e também outras informações que julgar pertinentes, redija uma
dissertação em prosa, na qual você exponha seu ponto de vista sobre o
tema: REFLEXÕES SOBRE O ENFRENTAMENTO E A ACEITAÇÃO DO LUTO NA SOCIEDADE
CONTEMPORÂNEA.