INSEGURANÇA ALIMENTAR E SOBREVIVÊNCIA
MODELO FUVEST
ID: IP5
Texto I
Os
bem vizinhos de Naziazeno Barbosa assistem ao ‘pega’ com o leiteiro. Por detrás
das cercas, mudos, com a mulher e um que outro filho espantado já de pé àquela hora,
ouvem. Todos aqueles quintais conhecidos têm o mesmo silêncio. Noutras
ocasiões, quando era apenas a ‘briga’ com a mulher, esta, como um último
desaforo de vítima, dizia-lhe: ‘Olha, que os vizinhos estão ouvindo’. Depois, à
hora da saída, eram aquelas caras curiosas às janelas, com os olhos fitos nele,
enquanto ele cumprimentava.” O leiteiro diz-lhe aquelas coisas, despenca-se
pela escadinha que vai do portão até à rua, toma as rédeas do burro e sai a
galope, fustigando o animal, furioso, sem olhar para nada. Naziazeno ainda fica
um instante ali sozinho. (A mulher havia entrado.) Um ou outro olhar de criança
fuzila através das frestas das cercas. As sombras têm uma frescura que cheira a
ervas úmidas. A luz é doirada e anda ainda por longe, na copa das árvores, no
meio da estrada avermelhada. Naziazeno encaminha-se então para dentro de casa.
Vai até ao quarto. A mulher ouve-lhe os passos, o barulho de abrir e fechar um
que outro móvel. Por fim, ele aparece no pequeno comedouro, o chapéu na mão.
Senta-se à mesa, esperando. Ela lhe traz o alimento.
—
Ele não aceita mais desculpas...
Naziazeno
não fala. A mulher havia-se sentado defronte dele, olhando-o enquanto ele toma
o café.
—
Vai nos deixar ainda sem leite...
Ele
engole o café, nervoso, com os dedos ossudos e cabeçudos quebrando o pão em
pedaços miudinhos, sem olhar a mulher.
—
É o que tu pensas. Temores... Cortar um fornecimento não é coisa fácil.
—
Porque tu não viste então o jeito dele quando te declarou: “Lhe dou mais um
dia!”
(Os Ratos, Dyonelio Machado)
Texto II
Em Os Ratos,
Dyonelio Machado capta a essência da luta diária contra a insegurança
alimentar, que se entrelaça com a hostilidade do ambiente urbano – isso é a
metáfora dos roedores que infestam a casa e a vida do protagonista. O romance é
um espelho da realidade de muitos brasileiros que, até hoje, enfrentam desafios
semelhantes. A insegurança alimentar é uma questão que transcende a ficção e se
manifesta de modo alarmante na sociedade atual. De acordo com a Rede Brasileira
de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), em
2021, mais de 33 milhões de brasileiros encontravam-se em situação de fome. Além
disso, a população em situação de rua é um dos grupos mais vulneráveis a esse
flagelo. Estimativas da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE)
apontam que, em 2020, havia cerca de 222 mil pessoas vivendo nas ruas das
cidades brasileiras, um aumento de 140% em relação a 2005. Esses indivíduos
enfrentam não apenas a falta de moradia, como também a escassez de alimentos
nutritivos e a falta de serviços básicos de saúde e higiene. No cenário
político, a pobreza frequentemente é utilizada como ferramenta de campanha
eleitoral – candidatos prometem programas de assistência e melhorias na
qualidade de vida para angariar votos, mas, muitas vezes, as políticas públicas
efetivas não acompanham as promessas feitas. Esse ciclo vicioso de promessas e
inércia política perpetua a falta de perspectiva de ascensão social, mantendo a
pobreza como uma realidade constante para uma grande parcela da população. Ainda
merece comento o fato de o endividamento crônico, elemento central da obra de
Dyonelio Machado, configurar-se como um reflexo da realidade de muitos
trabalhadores que, com salários baixos e poucas oportunidades de crescimento
econômico, veem-se presos em um ciclo de dívidas. Segundo o Serasa, em 2021,
havia 63 milhões de inadimplentes, evidenciando o quadro de dificuldades
financeiras que afeta grande parte da população, o que solidifica a pobreza e,
consequentemente, a exclusão social.
Prof. Gislaine Buosi
Texto
III
Disponível em: https://brqualityconsultoria.com.br/fome-no-brasil-seguranca-alimentar/ Acesso em 30.abr.2024.
Texto IV
PROPOSTA
DE REDAÇÃO: Considerando as ideias apresentadas nos textos e também outras
informações que julgar pertinentes, redija uma dissertação em prosa, na qual
você exponha seu ponto de vista sobre o tema: “Opressão, insegurança alimentar
e necessidade de sobrevivência no Brasil contemporâneo”.