MARIA DA LUZ teve sua
primeira escova de dentes aos 15 anos. Antes disso, usava folhas para limpar os
dentes, como era de praxe em Mulungu do Morro, interior da Bahia, onde nasceu.
Aos 14, sentiu uma dor forte no dente da frente e seu avô a levou ao
farmacêutico, ordenando que extraísse todos os dentes da frente de uma vez só —
sem anestesia — para que não voltasse a incomodar. Aos 17 anos, depois de muito
trabalhar na roça, ela conseguiu juntar dinheiro para comprar uma dentadura,
com a qual nunca se adaptou. Maria mudou-se para São Paulo com os três filhos,
priorizando dar o melhor de saúde e educação para eles com as suadas economias
do salário de auxiliar de serviços gerais. Ela nunca tirava foto. Dizia que era
infeliz com sorriso e que seu sonho era fazer um tratamento dentário. Em 2015,
conseguiu fazer implantes com a poupança de muitos anos. Hoje, não coloca mais
a mão na boca para sorrir.
A falta de dentes gera impactos negativos na vida de uma pessoa: dificuldade
para mastigar, alterações faciais, alterações da fala, baixa autoestima são os
impactos mais frequentes. Uma dentição completa é ideal para a saúde em geral,
o bem estar e para a autoestima. Tais noções ficaram mais evidentes após a
publicação do estudo Percepções latino-americanas sobre perda de dentes e autoconfiança, realizado pela empresa Edelman. Foram ouvidos 600
latino-americanos, dos quais 151 eram brasileiros, e foram obtidos os seguintes
resultados:
. 16 milhões
de brasileiros vivem sem nenhum dente;
. a perda de
dentes é o segundo fator que mais prejudica a qualidade de vida das pessoas
entre 45 e 70 anos;
. 32% disseram
que a perda de dentes as impede de ter um estilo de vida saudável e ativo;
. 39 milhões
de pessoas usam próteses dentárias no Brasil, sendo que uma em cada cinco tem
entre 25 e 44 anos;
. 41,5% das
pessoas com mais de 60 anos já perderam todos os dentes;
. 52% disseram
que a perda de dentes deixou a aparência de seus rostos pior;
. 43%
afirmaram que a falta de dentes atrapalha no estabelecimento de um
relacionamento e para 21% esta condição lhes impediu de fazer novos amigos;
. 38% dos
entrevistados se sentem mais inseguros para ir a festas e eventos sociais;
. 41%
relataram maior dificuldade para pronunciar as palavras após a perda dos
dentes.
De acordo com dados
da Coordenação Geral de Saúde Bucal do Ministério da Saúde, hoje o orçamento
destinado para o tratamento odontológico da população brasileira, que é estimada
em 211 milhões de pessoas, é de 1,4 bilhão de reais. Em contrapartida, a
Odontologia Suplementar, representada pelos planos odontológicos, destina 3,1
bilhões de reais para tratar seus 26 milhões de beneficiários. Quando
comparamos os gastos do poder público e os da iniciativa privada, a primeira
impressão que temos é que o Estado é muito mais eficiente, pois tem uma despesa
menor por paciente. No entanto, se considerarmos o potencial de pessoas a serem
atendidas com os atendimentos efetivamente realizados, a Odontologia
Suplementar tem os melhores números. Em 2019, as operadoras realizaram 189
milhões de atendimentos contra um pouco mais de 40 milhões realizados pelo SUS,
provavelmente bem distante do potencial populacional a ser atendido. Isso nos
sugere que no serviço público pode ocorrer maior tempo de espera e gargalos
para o atendimento, ao passo que na Odontologia Suplementar isso não ocorre. A
mais recente Pesquisa Nacional de Saúde, feita pelo IBGE em 2019 e divulgada em
setembro de 2020, constatou que apenas 12,9% dos brasileiros têm plano
odontológico. O mesmo levantamento constatou que, dos 162 milhões de
brasileiros acima de 18 anos, 34 milhões perderam 13 dentes ou mais. Pior: 14
milhões perderam todos os dentes. Além disso, menos da metade dos brasileiros
consultou um dentista nos 12 meses anteriores à data da entrevista. Desse
universo, apenas 36% das pessoas com renda menor que um quarto do salário
mínimo foram ao dentista. Os dados são alarmantes em razão das consequências,
que vão da perda dental até o acometimento de problemas de saúde mais graves. Segundo
estudo do Instituto do Coração (InCor), 45% das doenças cardíacas e 36% das mortes
por problemas cardíacos estão relacionadas a infecções bucais não tratadas.
Por Roberto Cury, presidente do Sindicato das Empresas de Odontologia de
Grupo (SINOG)
PROPOSTA DE REDAÇÃO:A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos
conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto
dissertativo-argumentativo sobre o tema: “A precariedade da saúde bucal da
população brasileira”. Apresente proposta de intervenção, que respeite os
direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa,
argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.