'O Avesso da Pele', que debate racismo, é censurado,
por reação equivocada ao conteúdo
Especialistas afirmam que a justificativa
apresentada pelos governos do Mato Grosso do Sul, de Goiás e do Paraná para
recolher das escolas públicas os exemplares do livro de Jeferson Tenório, “O
Avesso da Pele”, é falha, fraca e escorada no racismo, repetindo procedimento
de censura típico dos anos da Ditadura Militar. As secretarias de educação
afirmam que a obra apresenta “expressões impróprias” para menores de 18 anos, e
que, por este motivo, precisaria ser reavaliada ou retirada das bibliotecas das
instituições. Entretanto, especialistas argumentam que há confusão entre o
interesse privado e o público na ação desses governos estaduais, já que a obra
é premiada e foi selecionada para distribuição escolar pelo Programa Nacional
do Livro e do Material Didático (PNLD), do MEC. A obra consta ainda
na lista de livros obrigatórios do vestibular do Instituto Tecnológico de
Aeronáutica (ITA), considerado um dos mais concorridos de todo o país. (...) O
livro, que foi publicado em 2020 e venceu o Prêmio Jabuti (o mais importante do
setor), narra a história de Pedro, que teve o pai assassinado em uma abordagem
policial. A obra apresenta questões raciais que vão desde o racismo estrutural
à violência policial, e trata ainda da fetichização e sexualização de corpos negros.
SANTOS,
Emily. Disponível em: https://g1.globo.com/educacao/noticia/2024/03/08/o-avesso-da-pele-livro-que-debate-racismo-e-censurado-em-escolas-de-3-estados-por-reacao-equivocada-ao-conteudo-alertam-especialistas.ghtml.
Adaptado. Acesso em 26.jun.2024.
Texto II
Quando soube que a própria bisneta adaptaria a obra
de Monteiro Lobato, estranhei. (...) Meu estranhamento se misturava à sensação
de incômodo que eu sabia exatamente de onde vinha: mexer em um texto literário,
um clássico, não é algo bem-visto pela perspectiva dos estudos literários. Isso
porque todo texto fala de seu tempo, do lugar onde foi escrito, das pessoas que
viveram à época de sua concepção e daquelas que primeiramente o leram. Assim,
ainda que os motivos de Cleo [a bisneta] para adaptar a obra de Lobato me
parecessem louváveis (na época, eu achava que ela queria retirar do texto
expressões hoje entendidas como racistas, mas, adiante, fui entender melhor), a
iniciativa em si ainda me confundia. Porém, como pesquisadora, meu papel é
buscar entender uma situação-problema por diversos prismas. Fazemos pesquisa
para que nossos estudos alcancem a sociedade e possam tornar o mundo um lugar
melhor e mais democrático, sobretudo quando é a universidade pública que nos
impulsiona. O mesmo acontece com a literatura, que deve alcançar seus leitores,
sem os quais ela nem sequer existe – um livro infantil que não alcance crianças
é um livro que não tem razão de existir. Monteiro Lobato escreveu livros para
as crianças e sobre as crianças. Ele não escreveu as histórias do Sítio do
Pica-Pau Amarelo para pesquisadores. E, como pesquisadora, meu papel é olhar
para todo esse movimento de maneira investigativa: quanto de reconhecimento e
identificação, seja consigo, com seu espaço ou com seu tempo, este livro pode
proporcionar aos leitores? Quanto este livro facilitará ou impedirá a relação
dos leitores com o mundo? Se a balança pende para causar dor em uma criança,
isso precisa ser revisto. (...) A escola é o mundo de muitas crianças e, por
isso, não é aceitável que qualquer uma delas sofra em sala de aula, justamente
no espaço em que ela deveria se fortalecer. Então, se a adaptação de que
falamos aqui, cujo foco está em atualizar para hoje a mesma pujança que se lia
na Tia Nastácia de um século atrás, essa adaptação é bem-vinda.
CHIARADIA,
Kátia. Disponível em: https://www.lobato.com.vc/2022/11/o-que-significa-adaptar-uma-obra/.
Adaptado. Acesso em 26.jun.2024.
Texto III
A Academia Brasileira de Letras (ABL) quebrou o
silêncio e repudiou a censura imposta, em 20/06/2024, em Minas Gerais, ao livro
"O Menino Marrom", de Ziraldo. Em comunicado oficial, a ABL condenou
veementemente qualquer forma de censura a obras literárias, destacando um
preocupante "modus operandi" no Brasil nos últimos anos. “Infelizmente,
episódios dessa natureza têm se repetido em escolas brasileiras, seguindo um
padrão preocupante: um livro é selecionado e aprovado pelo Ministério da
Educação, é aceito pelas escolas e, posteriormente, vira alvo de censura por
parte de pais ou pedagogos, que apresentam argumentos frágeis e insuficientes
contra a obra literária”, destacou a ABL, que também falou sobre a importância
da integridade das produções culturais e dos autores brasileiros. “Este livro,
publicado em 1986 por um autor premiado e respeitado tanto no Brasil quanto no
exterior, é um clássico da nossa literatura infantojuvenil, lido nas escolas
brasileiras há quase quatro décadas”, enfatizou.
Disponível
em: https://revistaforum.com.br/cultura/2024/6/26/abl-se-pronuncia-sobre-censura-do-livro-o-menino-marrom-feita-por-incentivo-de-pastor-do-pl-161153.html.
Adaptado. Acesso em 26.jun.2024.
Texto IV
Não é raro atribuir a Machado de Assis o olhar de
lince. De fato, a perspicácia do autor captava de longe as deformações sociais
que, infelizmente, persistem. (...) Das narrativas machadianas levantam-se intrigas
familiares, disputas patrimoniais, amores mal resolvidos, personagens negros subservientes
à elite branca do século 19 – e isso nada mais é do que um retrato, quase
jornalístico, da produção literária que nasceu com sabor de maturidade.
Entretanto, é de se lamentar o fato de alguns desavisados considerarem que
Machado tenha dado vez a escravocratas, especialmente, por conta do episódio em
que Prudêncio, escravo recém-alforriado, compra para si um escravo. Aqui é possível cogitar duas
saídas àqueles que engordam críticas ferinas à expressão máxima da Literatura:
ou não são capazes de decodificar a fina ironia machadiana que se esconde nas
entrelinhas, ou são leitores que
apreciam apenas romances cor-de-rosa, cujo final é sempre permeado de festas e
beijos. Fica aqui o alerta: a escrita machadiana foi e é artigo de protesto de
primeira qualidade, e não livrinho de abanar esbaforidos em dias de calor
intenso.
Por
Gislaine Buosi
PROPOSTA DE REDAÇÃO: A partir do material de apoio
e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um
texto dissertativo-argumentativo, em norma padrão da língua portuguesa, sobre o
tema: “Literatura brasileira: entre a fidelidade histórica e a censura contemporânea”. Apresente proposta de intervenção social que respeite os
direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de maneira coerente e coesa,
argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.