Vivemos um momento crucial, com a sobrevivência do
planeta sendo ameaçada pelo aquecimento global e pela degradação ambiental, e a
sobrevivência da humanidade, pela pandemia da Covid-19. Mais do que nunca,
precisamos da ciência, mas estamos sendo assolados pelas forças do
obscurantismo, que agora se utilizam dos poderosos estratagemas de redes
sociais. Eu gostaria de enfatizar aqui que, mais que carreira ou profissão, a
ciência é uma maneira de se posicionar perante as outras pessoas e a realidade
que nos cerca. Dessa forma, o método científico não é um conjunto de técnicas
inacessíveis ao cidadão comum, é simplesmente constituído pela prática do
pensamento crítico. A democracia permite às pessoas fazer escolhas conscientes.
Quanto maior for a parcela da população que exercitar o pensamento crítico,
melhores serão as decisões tomadas. É isso que podemos chamar de democracia
científica. Em um regime ideal de democracia científica, em que vigore a total
liberdade de escolha, a antidemocracia, em qualquer forma que se apresente,
poderá ser desbaratada. Também, conceitos errôneos e nefastos como a negação da
ciência, o racismo, o machismo, a xenofobia, a homofobia e a intolerância à
diversidade não terão lugar.
São cada vez mais comuns a desconfiança e o desprezo
pelo pensamento científico. A proliferação de teorias conspiratórias e o
negacionismo a temas como a eficiência das vacinas, a origem do vírus HIV, a
forma da Terra, a evolução das espécies ou o aquecimento global são exemplos de
como, em alguns grupos, as crenças e convicções pessoais passam a ter mais
importância que as evidências apresentadas pelos cientistas. O recente
movimento global "anticiência" tenta colocar a ciência em xeque. A
ciência também é vítima das fake news, informações falsas divulgadas como se
fossem notícias verdadeiras. Informações falsas sempre existiram. Mas com a
internet, elas passaram a ser compartilhadas em uma velocidade, ritmo e escala
nunca antes visto. Plataformas como Facebook, Twitter e WhatsApp favorecem a
replicação de boatos e mentiras. (...) "O questionamento em relação às
teorias científicas ocorre desde que elas existem, visto que a ciência aborda
as informações do cotidiano de uma forma diversa daquela desenvolvida pelo
senso comum. No entanto, quanto mais desenvolvido o conhecimento científico é,
mais distante e estranho ele se torna para o indivíduo comum. Além disso, há a
utilização política da desconfiança em relação aos dados. A ciência passa a ser
vista como apenas um discurso que, por ser incompreensível, é descartado por
uma informação mais simples, ou então os cientistas podem ser acusados de
ideólogos que mentem por algum suposto motivo escuso", avalia o professor e
sociólogo Rafael Carneiro Vasques.
O neurocientista Miguel Nicolelis é um dos mais
respeitados no meio científico internacional. No Brasil, é também conhecido por
sua conduta multidisciplinar. Ou seja, não se restringe a comentar suas
pesquisas sobre o mal de Parkinson ou a paralisia. Fala em modificar a educação
para melhorar o potencial de aprendizado do ser humano. Em popularizar a
ciência e aproximá-la da vida real das pessoas – porque a entende como
semeadora de transformação social. E critica a democracia limitada, dentro da
qual o povo delega aos políticos a tarefa de cuidar dos assuntos de interesse
da coletividade. (...) Isso evidencia a necessidade de fortalecer a democracia
participativa, de ampliar o poder de influência das maiorias nas decisões do Estado
e avançar para uma reforma política que discuta desde financiamentos de
campanhas a legitimidade de partidos; de quantidade de parlamentares por
habitantes à sua funcionalidade; e até mesmo se o Poder Legislativo precisa de
um Senado para cumprir o seu papel.
ROPOSTA DE REDAÇÃO: A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos
construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo
em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema “A ciência como
ferramenta de defesa da democracia”, apresentando proposta de intervenção.
Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos
para defesa de seu ponto de vista.