O fenômeno natural
das secas no nordeste ensejou o surgimento de um fenômeno político denominado
“indústria da seca”. Os grandes latifundiários nordestinos, valendo-se de seus
aliados políticos, interferem nas decisões tomadas, em escala federal, estadual
e municipal. Beneficiam-se dos investimentos realizados e dos créditos
bancários concedidos. Não raro aplicam os financiamentos obtidos em outros
setores que não o agrícola, e aproveitam-se da divulgação dramática das secas
para não pagarem as dívidas contraídas. Os grupos dominantes têm saído
fortalecidos, enquanto é protelada a busca de soluções para os problemas
sociais e de oferta de trabalho às populações pobres. Os trabalhadores sem-terra (assalariados, parceiros, arrendatários, ocupantes) são os mais
vulneráveis à seca, porque são os primeiros a serem despedidos ou a terem os
acordos desfeitos.
A indústria da
seca tem sido combatida em duas frentes: a primeira é liderada pelo Ministério
Público (MP), que processa prefeitos e outros políticos e gestores públicos por
desvio de recursos emergenciais, o que resulta em mandatos cassados pela
Justiça; a segunda frente é a Ciência. Desde a intensa seca de 2012 e, pela
primeira vez de forma sistemática, as ações de mitigação dos governos federal e
estaduais foram guiadas pela melhor informação científica fornecida por
organizações de pesquisa federais e estaduais, como o Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE), o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de
Desastres Naturais (Cemaden), a área de pesquisa da Agência Nacional das Águas
(ANA), entre muitas outras. Estas ações canalizam recursos de mitigação para as
áreas criticamente atingidas em ações focalizadas como transferência de renda,
fornecimento de água e apoio à agricultura de subsistência. Estes programas
custaram mais de R$ 40 bilhões aos cofres públicos de 2012 até hoje, mas
criaram a necessária rede de proteção social para mais de 10 milhões de
habitantes rurais e urbanos em todo Nordeste.
Qual a diferença entre “combate” e “convivência” com a seca?
Desde a década de 1980, entendeu-se que não era possível
"combater" ou "enfrentar" a seca. Mudou-se, então, o olhar,
surgindo a palavra "convivência" como mais apropriada. O entendimento
é o de que, se por um lado o fenômeno natural sempre ocorreu e deverá inclusive
se agravar e, por consequência, não dá pra ser combatido, por outro, podem-se
desenvolver propostas e experimentar alternativas baseadas na ideia de que é
possível e necessário conviver com ele.
Que soluções podem ser apontadas para a convivência com a seca?
Não existe uma receita pronta e que sirva para todos. Entretanto, é
essencial que as famílias tenham acesso à água para consumo humano, para
consumo animal e, em alguns casos, para alguma produção. Além disso, é
necessário que se tenha uma gleba de terra com tamanho e com qualidade
suficientes para o sustento dos agricultores e de suas famílias. Havendo
políticas que garantam isto, e entendendo que para se conviver nesse ambiente
torna-se necessário ter sistemas de produção diversificados com cultivos
alimentares, culturas de renda e, principalmente, pequenas criações, é preciso,
cada vez mais, trabalhar com plantas mais resistentes (buscar inclusive opções
entre espécies nativas), animais mais rústicos (ainda que menos produtivos),
além de se buscar uma harmonia com o ambiente em que se vive. Outra questão
crucial para a convivência é a efetiva assistência técnica e extensão rural.
Disponível em: https://pt-static.z-dn.net/files/d03/5b90908cd661031413c38558695e4026.jpg.
Acesso em 12.abr.2024.
PROPOSTA DE REDAÇÃO: A partir do material de apoio e com base nos
conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto
dissertativo-argumentativo, em norma padrão da língua portuguesa, sobre o tema: "A indústria da seca, o poder político e a pobreza no Brasil do século 21". Apresente proposta de intervenção social que respeite
os Direitos Humanos. Selecione, organize e relacione, de maneira coerente e
coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.