O medo tem papel fundamental na evolução humana, mas funciona melhor longe dos extremismos. O Homo sapiens, ao longo de milhares de anos, não teria escapado se partisse para cima de qualquer animal que encontrasse pela frente, e tampouco duraria se ficasse paralisado a ponto de não conseguir fugir quando necessário. O mesmo valeria no convívio com a própria espécie. Afinal, deixar o pavor atingir um nível debilitante poderia fazer com que um indivíduo se isolasse de seus pares, reduzindo sua capacidade de se proteger. Nenhum dos extremos permitiria que ele sobrevivesse por muito tempo. (...) Graças ao componente social do ser humano, nosso rol de fobias costuma aumentar ao longo da vida. Um sintoma disso é que, em tempos de Covid-19, novos medos parecem aflorar de todos os lados. Na Austrália, relatos de avistamento de morcegos — primeiro animal relacionado à disseminação do novo coronavírus — cresceram de forma expressiva, não necessariamente porque mais morcegos começaram a aparecer, mas porque as pessoas passaram a enxergar nesse animal um perigo que antes não viam — temor que, por sinal, talvez nem se justifique. A história mostra que o pânico em algumas sociedades já levou várias espécies locais à extinção, causando danos irreparáveis ao meio ambiente.
Disponível em: http://www.blogdaprima.com.br/2020/10/22/quer-viver-sem-medo-a-emocao-e-na-verdade-essencial-para-nos-manter-seguros-dizem-novos-estudos/. Acesso em 6.jul.2022.
Texto II
Desde sua origem, o ser humano carrega consigo um substrato de medo inerente à sua natureza, relacionado majoritariamente com a ideia de insegurança e com a percepção de precariedade da vida. Entretanto, as situações e contextos percebidos como ameaças ou agressões variam ao longo do tempo, sendo, nessa medida, construídos social e culturalmente. Na Idade Moderna, esses sentimentos de medo passam a ser manipulados pelos aparelhos de poder, tais como a Igreja Católica e o nascente Estado absolutista, para sua preservação e legitimação, assim como para fundamentação da ação persecutória conduzida por esse poder político-religioso na maior parte dos países da Europa à época, em um modelo específico de dominação político-ideológica. Dessa maneira, o imaginário do medo e o seu discurso passam a ser instrumentalizados como ferramenta ideológica para práticas violentas de controle social, em processos de neutralização e disciplinamento das massas empobrecidas, identificadas como inimigos da ordem pública. Esse tipo de estratégia foi utilizado de modo semelhante na formação da sociedade colonial brasileira, onde, assim como na Europa, as instituições de poder político e social procuraram legitimar-se através da perseguição e punição dos sujeitos e comportamentos considerados desviantes.
RIBEIRO, Lorena Lima de Patríio. Disponível em: https://repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/31968/1/2017_tcc_llpribeiro.pdf>. Acesso em: 18 jan. 2022.
Texto III
Recentemente, a psicologia passou por uma crise diante da constatação de que muitos resultados de pesquisas consideradas sérias falhavam ao ser repetidos. Porém, no caso do incentivo ao medo, há publicações que demonstram efetividade na estratégia. Numa metanálise da efetividade do apelo ao medo, publicada em 2015, Melanie Tannenbaum, psicóloga da Universidade de Illinois, em Urbana-Champaign, juntou dados de 127 estudos, totalizando mais de 27 mil pessoas envolvidas. A conclusão dos pesquisadores é a de que “há muito poucas circunstâncias” sob as quais os apelos ao medo não funcionam. O estudo considerou especialmente as mensagens para convencer o público a aderir a protocolos médicos.
VIEIRA, Eli. Disponível em: https://otambosi.blogspot.com/2022/02/como-os-governos-usaram-manipulacao.html. Acesso em 6.jul.2022.
Texto IV
Vivemos na sociedade da insegurança sentida, consubstanciada pela produção de um sentimento que reflete sensação geral de medo. As informações sensacionalistas são amplamente exploradas a toda sociedade, capaz de transformar simples acontecimentos em situações trágicas, gerando insegurança social. Dessa forma, o sentimento coletivo de insegurança, (re)legitima a crescente onda de hipertrofia punitiva de um Estado cada vez mais penal-higienista que cria estereótipo de criminoso e transforma a prisão em um campo de concentração para as diversas expressões da questão social, que praticamente se delimita no público de moradores em situação de rua, egressos prisionais e favelados. Esses grupos mais pauperizados são rotulados pela grande mídia e no senso comum da população que compra a visão da mídia através das notícias, novelas, filmes e seriados. Criam o estereótipo que tal mazela social faz parte de tal grupo, ou também associam que tal caso (de tal pessoa na mesma situação social) é semelhante a esse novo caso, ocorrendo então a “generalização”.
Recolhido do documento PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Bruno Jaar Karam
PROPOSTA DE REDAÇÃO: A partir do material de apoio e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo, em norma padrão da língua portuguesa, sobre o tema: “O medo como estratégia para intimidação e controle social”. Apresente a proposta de intervenção social que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de maneira coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.