Há alguns séculos, antes do marco da Revolução
Industrial, o trabalho era transmitido através das gerações de uma família, sem
grandes questionamentos. Enquanto a subsistência da sociedade era baseada em
atividades essenciais, como agricultura e comércio, as famílias ficavam
fechadas em si, sem a necessidade de troca. Entretanto, a transição do trabalho
no campo para o modo de produção capitalista fez com que o trabalho emigrasse
da esfera privada para a esfera pública. A nova ordem social, inaugurada com o
advento do capitalismo, promoveu o desenvolvimento do trabalho assalariado, que
modificou a função econômica da família, assim como a relação desta com o
trabalho. É principalmente a partir da Revolução Industrial que passa a
prevalecer a ideia de "o homem certo no lugar certo", visando a uma
maior produtividade. Até então não existia a possibilidade de uma escolha
profissional, já que os filhos acabavam por seguir o ofício do seu grupo
familiar. No contexto de trabalho contemporâneo, surgiram centenas de
profissões, enquanto muitas outras deixaram de existir. A noção de trabalho
configura-se não mais como uma progressão contínua e hierárquica dentro de uma
organização, pois outras necessidades se impõem no mercado de trabalho. Naquele
instante, o trabalho era caracterizado como uma rotina em grandes fábricas; o
capital estava enraizado no solo, e os trabalhadores sentiam-se seguros em
relação a seus empregos. O tempo conferido ao capitalismo sólido era de longo
prazo. Segundo o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, vive-se hoje a modernidade
líquida, marcada pelo capitalismo leve e flutuante, em que as empresas buscam
tornarem-se organizações mais flexíveis e enredadas. É diante desse cenário que
os jovens, principalmente aqueles pertencentes às camadas médias da sociedade,
são chamados a escolher uma profissão. Mais do que escolher uma profissão, eles
devem elaborar um projeto de vida e um projeto profissional. A construção de um
projeto de vida configura-se como uma necessidade a partir de meados do século 20.
(...) Quando o indivíduo pode escolher o seu futuro, ele passa a fazer
projetos. Entretanto, essa escolha ou essa elaboração de projetos não serão
realizadas no vazio, mas sim em meio a uma situação social, econômica,
política; sofrendo influências dessas diversas dimensões, inclusive da família.
O indivíduo que escolhe está inserido em um determinado contexto, logo o
projeto não é puramente individual, uma vez que ele é formado no seio da
família e da sociedade. Assim, o sujeito experimenta uma falsa liberdade de
escolha frente às inúmeras possibilidades de cursos superiores ou técnicos que
vêm se multiplicando nas diversas universidades. Bauman define "sentir-se
livre" como "não experimentar dificuldade, obstáculo, resistência ou
qualquer outro impedimento aos movimentos pretendidos ou concebíveis".
Estar totalmente livre, segundo a definição de Bauman, é quase uma utopia para
o indivíduo contemporâneo. Logo, o jovem que deve hoje escolher uma profissão e
elaborar o seu projeto de vida não está tão livre para realizar uma escolha
apenas individual, pois sofre diversas influências do meio em que está inserido.
ALMEIDA,
Maria Elisa Grijó Guahyb e MAGALHÃES, Andrea Seixas Magalhães.
Disponível
em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-33902011000200008/.
Adaptado. Acesso em 20-abr-2023.
Texto II
Que as profissões nunca mais serão as mesmas, isso ninguém
duvida. Mas nestes tempos difíceis o que realmente remunera melhor em termos de
trabalho no Brasil? Um levantamento do G1 feito a partir de dados divulgados
recentemente pela Receita Federal sobre o detalhamento das declarações de
imposto de renda aponta que donos de cartório, membros do Ministério Público e
do Poder Judiciário, diplomatas, advogados e médicos são as categorias
profissionais mais bem remuneradas no Brasil. Os números são relacionados ao
universo de 30,2 milhões de brasileiros que declararam o IR em 2019. Os valores
referem-se ao rendimento médio no ano de 2018. No ranking das maiores rendas,
despontam carreiras do setor público, atividades bem especializadas do setor
privado, além de profissionais do setor artístico e esportivo. Das 10 ocupações
com maior rendimento médio, 6 são relacionadas à elite do funcionalismo
público. Do setor privado, os mais bem posicionados são médicos, atletas,
pilotos de aeronaves e embarcações, atores e agentes do mercado financeiro. No
ranking das ocupações com menor renda média, destaca-se a maior presença de
trabalhadores da indústria em atividades operacionais e prestadores de serviços
em empregos que não exigem um elevado nível de escolaridade.
PROPOSTA DE REDAÇÃO: A partir do material de apoio
e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um
texto dissertativo-argumentativo, em norma padrão da língua portuguesa, sobre o
tema: “Desafios para a realização profissional na contemporaneidade capitalista”.
Apresente proposta de intervenção social que respeite os direitos humanos.
Selecione, organize e relacione, de maneira coerente e coesa, argumentos e
fatos para defesa de seu ponto de vista.