A maneira de viver
e pensar está em mudança vertiginosa e é simultaneamente causa e efeito das
transformações que estão acontecendo hoje nas áreas de educação, indústria,
medicina, família, costumes, política, vida social e econômica. Como resultado
do prolongamento da vida, o fenômeno da família tem sido acompanhado por uma
prorrogação de duas e três gerações a quatro ou cinco gerações. Não é incomum
hoje em dia que os pais de 40 a 50 anos tenham alguns de seus pais de 60 a 70
anos e os avôs de 80 a 90 anos. O envelhecimento, portanto, não é apenas um
fenômeno individual ou social, mas também uma relação familiar. É possível que
duas ou até três dessas gerações estejam no que se define como “fases de
envelhecimento da vida”. Atualmente, há um maior número de crianças que
conhecem seus avôs quando estes ainda estão vivos, e isso por um longo tempo.
Portanto, um número maior de pessoas de um século atrás pode manter as relações
entre avós e netos. As crianças agem como “raízes” e tornam-se novas “raízes”
desses avós, e, talvez, do país de origem. O avô sente-se vivo, tornando-se
“sujeito” das identificações da criança. (...) A criança só se coloca
verdadeiramente no papel e na posição dos pais a partir do momento em que
compreende que seus pais sofreram os mesmos efeitos da dinâmica do conflito
edipiano que aquela enfrenta. Avós e bisavós também ajudam as crianças a se
integrarem no tempo. (...) Vários autores e alguns documentos das Nações Unidas
destacam a necessidade de promover o diálogo entre as gerações. O ano de 1999,
declarado “Ano Internacional dos Idosos”, com seu lema integrador “Rumo a uma
sociedade para todas as idades”, foi o cenário para atividades que tiveram como
protagonistas crianças, jovens, adolescentes e idosos em quase todo o mundo.
Em sintonia com o
Ano Internacional, surgiu a Declaração de Quebec: “Esta Declaração sobre a
Solidariedade Intergeracional considera um ideal a ser atingido pelo respeito
aos direitos e liberdades das pessoas, tornando-se uma obrigação moral para
quem aderir a ela. Isso coloca grandes desafios em diferentes graus, de acordo
com as regiões ou os países e as questões consideradas. Além disso, esta
Declaração nos faz lembrar sobre a importância de reconhecer que a afirmação
dos direitos implica a afirmação dos deveres.”
Artigo 1
Todas as pessoas
são chamadas a viver de acordo com os valores humanos fundamentais, como o
reconhecimento e o respeito pelo ser humano em suas múltiplas dimensões e no
seu próprio desenvolvimento, em conformidade com as responsabilidades sociais
que exigem a solidariedade intergeracional. (...)
Artigo 8
Os jovens e os
idosos têm o direito e o dever de contribuir para o desenvolvimento da
sociedade, e esta, em contrapartida, deverá oferecer os meios necessários para
que possam assumir o seu próprio destino e participar ativamente na vida
social. (...)
Artigo 10
Toda sociedade, por
intermédio de seus governantes e de suas instituições, deverá oferecer aos seus
membros mais vulneráveis, quer por suas capacidades restritas ou por sua
pobreza, a ajuda e todo o serviço adequado às suas necessidades específicas. As
famílias que assumirem a custódia de dependentes devem poder contar com os
diferentes tipos de auxílio estatais e outros recursos da sociedade, conforme
necessário.
SANTIAGO PSZEMIAROWER e NORA POCHTAR. Disponível em:
De onde vem a
prepotência de filhos adultos e netos adolescentes que se arrogam saber como
seus pais e avós devem ser, fazer, sentir e pensar ao envelhecer? É risível o
esforço das gerações mais jovens, querendo educá-los, quando o envelhecimento é
uma obra social e, mais, profundamente coletiva, da qual os adultos de hoje –
que justa, porém indevidamente – cultivam os valores da juventude permanente e,
da velhice não fazem a mais pálida ideia, e , além disso, não têm a menor
noção de como haverão eles próprios de envelhecer, uma vez que está em curso
uma profunda mudança nas formas, estilos e no tempo de se viver até envelhecer
naturalmente e, enfim, morrer a Boa Morte. Penso ser uma verdadeira utopia propor,
neste momento crítico, mudanças definidas na interação entre pais e filhos e
entre irmãos. Mudanças definidas e, de nenhuma forma, definitivas, mais humanas, sensíveis e confortáveis. O compartilhar é imperativo. O
dialogar poderá interpor-se entre os conflitos geracionais, quem sabe atenuando-os
e reafirmando a necessidade de resgatar a simplicidade dos afetos garantidos e
das presenças necessárias para a segurança de todos.
FRAIMAN, ANA. Disponível em: https://www.psicologiasdobrasil.com.br/idosos-orfaos-de-filhos-vivos-sao-os-novos-desvalidos-do-seculo-xxi/.
Adaptado. Acesso em 11.set.2022.
PROPOSTA DE REDAÇÃO: A
partir do material de apoio e com base nos conhecimentos construídos ao longo
de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo, em norma padrão da
língua portuguesa, sobre o tema: "Solidariedade intergeracional como ferramenta para a construção da paz social". Apresente a proposta de
intervenção social que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e
relacione, de maneira coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu
ponto de vista.