“Gladys
é uma das poucas mulheres que vivem do trabalho de estátua viva no Brasil.
Seleciona personagens lúdicos e mais infantis para levar às ruas (...). A renda
depende do humor do público e até da chuva. Mas é o suficiente para que os
estatuístas vivam de seu trabalho nas ruas. Gladys é casada e tem um filho de
4 anos.
Para o texto descritivo-psicológico, que procura enxergar
“o de dentro”, é essencial que o escritor use os cinco
sentidos para explorar aquilo que
pretende descrever – cheiros, ruídos, sabores, texturas, cores devem ser
provocados para “desenhar” melhor as cenas e o perfil emocional e físico da
personagem.
O recorte jornalístico forneceu um perfil superficial de Gladys. Para “puxar ideias”, levante hipóteses: o que mais se pode dizer da personagem – como é?; gosta da profissão que exerce?; incomoda-se com quê?; é emotiva?; choca-se com quê?; alegra-se com quê?; queria ter o quê?; é feliz?; ama o quê?; sente-se amada? etc., etc.
Para
provocar sentidos, percepções e sentimentos, levante mais hipóteses: que
cheiros, cores ou sabores fazem a personagem lembrar o quê?; com saudade,
rancor ou tristeza? etc., etc.
Procure
ir além da descrição-psicológica previsível: dizer que Fulana é calma, triste e
boa – isso é muito comum. Afinal, o que há por detrás da fantasia de Gladys, a estátua viva?
Saiba
que o leitor vai “ver” exatamente aquilo que o escritor quiser/permitir que ele
veja, fraca ou intensamente, a depender da sensibilidade e da técnica do
escritor.
Outras
orientações: 1) empregue os verbos no passado; 2) explore e misture
características físicas e psicológicas (predominantemente) de apenas uma
personagem; 3) escreva, aproximadamente, 30 linhas; 4) atribua um título ao
texto (nas crônicas descritivas, é possível utilizar o nome da personagem
descrita como título do texto).
Leia
abaixo um exemplo de texto predominantemente descritivo-psicológico:
A
varanda dorme acesa, enquanto Julieta sente que, portões afora, há a Terra que
gira, que a terra sempre girou, mesmo antes dos calendários, mesmo antes de os
homens saberem que ela girava. Portões adentro, suas histórias atropelam-se,
escondidas. As queixas de Julieta, grandes e pequenas, sempre foram secretas;
os protestos, silenciosos; os instantes de alegria, contidos. Nem ela mesma
sabe que espécie de alegria tem, uma alegria sem cor nem cheiro, alegria de
quem não tem motivos para rir, mas ri, chora de tanto rir, e chora, boba – e
então tem a certeza de que ri da alegria de quem vê graça numa bola de papel
amassado.
Gislaine Buosi
SUPER
DICA: Para valorizar as descrições, procure utilizar a sinestesia, figura de
linguagem que é a mistura de sensações ou percepções ou sentidos. Ex.: “Minha
melhor recordação está sempre quente, pronta.” (Guimarães Rosa). Note que foram
empregados um sentimento (recordação) e um sentido (tato – quente).