O COMENTÁRIO CRÍTICO FORMAL situa-se no âmbito do domínio do discurso jornalístico opinativo. Costuma ser mais rápido e mais econômico que o Artigo de Opinião, e diferencia-se dele porque, em geral, o Comentário parte de um texto-base – o que, a rigor, não acontece com o Artigo. O gênero Comentário pressupõe um diálogo entre dois ou mais textos.
É preciso esclarecer que “criticar” significa tecer considerações positivas e, se for o caso, negativas, acerca de um fato/evento. Isso se estende ao comentário – uma peça crítica por natureza.
Como fazer um COMENTÁRIO?
Ainda que a estrutura textual de um comentário seja bastante flexível, é preciso que o comentarista, depois de lido atentamente o texto-base, mencione o nome do autor do texto-base e faça uma síntese do assunto. Por exemplo:
O professor Olavo Couto Guimarães afirmou, em entrevista à Revista São Paulo em Dia, da quinta-feira (19/2), que a redução da maioridade penal é imprescindível no Brasil do século 21...*
Em seguida, o comentarista posiciona-se (tese):
Ora, a meu ver, o colega está equivocado, vez que a redução da maioridade penal não é o mecanismo eficiente para a redução da criminalidade...
Logo após, há, efetivamente, o comentário – ou seja, o registro das percepções do leitor comentarista, que pode se valer não só do julgamento dos fatos expostos, mas também das respectivas projeções. Outra estratégia eficiente é contrapor os fatos (presente x passado) ou tecer comparações (aqui acontece desse modo [como?], enquanto lá [onde?] acontece de outro modo [como?].
Obviamente, para comentar, é preciso dominar o assunto – impossível tecer considerações a respeito daquilo que não se conhece. Os comentários amadores/informais/vagos (gostei; não gostei; concordo; não concordo; legal; bem lembrado etc.) são registros típicos da fala (e não da escrita)e, sozinhos, depreciam o texto.
* Nomes fictícios.
Outras observações sobre a redação de COMENTÁRIO:
. escrita de acordo com a norma culta, o que, em tese, lhe garante respeitabilidade/credibilidade – expressões ofensivas e discriminatórias, gírias e palavrões estão proibidos;
. períodos curtos e médios;
. autenticidade – opiniões generalizadas têm pouco ou nenhum valor;
. condução em 1.ª pessoa do singular; no entanto, é preciso evitar intromissões grosseiras, tais como: eu acho; detesto; no meu modo de pensar etc.;
. identificação e assinatura do comentarista (advogado/biólogo/juiz de direito etc.);
. possíveis fragmentos de ironia e humor refinados;
. em média, 15 linhas;
. não é intitulado.
O recorte jornalístico abaixo é a base para seu COMENTÁRIO CRÍTICO:
Placebos
alternativos
Chás, gotinhas, injeções e outras esquisitices fazem pensar: o que leva
as pessoas a acreditarem em tanta besteira?
Meu amigo disse que toma 12 vitaminas por dia. Diante do meu espanto,
justificou: “Há cinco anos não tenho gripe”. Meu primeiro impulso foi dizer que
minha última gripe foi há mais de 20 anos, sem que eu tomasse vitamina nenhuma,
mas fiquei quieto. A experiência clínica me ensinou a não afrontar crendices
populares.
A crença nos superpoderes das vitaminas não é das piores – afinal, existe
uma ou outra condição em que elas estão indicadas: ácido fólico na gestação,
B12 na anemia perniciosa, por exemplo. Agora, chás de plantas exóticas,
gotinhas a cada duas horas (...) e até um shot de vitamina D, para não pegar
coronavírus no Carnaval, são esquisitices que fazem pensar: o que leva as
pessoas a acreditarem em tanta besteira? A resposta está na neurobiologia. O
cérebro humano é mestre na arte de antecipar. Reagir com rapidez ao perigo
iminente foi tão essencial à sobrevivência da espécie, que a simples
expectativa de um estímulo doloroso provoca a liberação de mediadores químicos
associados ao sofrimento. Quando a mera expectativa de bons resultados é capaz
de trazer benefícios à saúde e ao bem-estar, estamos diante do efeito placebo. (...)
Em ensaios clínicos conduzidos com rigor científico, é frequente usarmos
placebos – que não passam de comprimidos de talco, com aparência externa
idêntica à do medicamento que pretendemos testar (...) e é comum obtermos
respostas no grupo placebo comparáveis às dos que receberam o princípio ativo
(efeito placebo). (...) No caso dos remédios populares, as expectativas são
afetadas pela forma e pela credibilidade de quem os indicou. (...) O simples
ato de tomar remédios receitados por pessoas em quem confiamos pode ajudar na
resposta terapêutica.
Drauzio Varella, médico cancerologista https://www1.folha.uol.com.br/colunas/drauziovarella/2020/02/placebos-alternativos.shtml,
acesso em abril de 2020, adaptado
COMANDO: Escreva um COMENTÁRIO CRÍTICO FORMAL acerca da matéria de
Drauzio Varella.
Lembre-se: É preciso esclarecer que “criticar” significa tecer
considerações positivas e, se for o caso, negativas, acerca de um fato/evento. Isso se
estende ao comentário – uma peça crítica por natureza.