(...) um dos problemas da política hoje é que estamos perdendo a
capacidade de mudar de opinião. Obtemos visões e notícias de política das redes
sociais, uma câmera de eco que só reforça o que pensamos. Perdemos então nossa
capacidade de nos questionar, de sermos céticos. Isso alimenta um tipo de
política muito negativa, pois não conseguimos nos colocar no lugar de outra
pessoa. Passei os últimos 15 anos estudando e falando sobre a empatia porque
ela diz respeito a tentar entender a perspectiva dos outros e reconhecer que às
vezes nossa ideia do outro está totalmente errada. Julgamos pessoas, temos
estereótipos e preconceitos, mas precisamos tentar encontrar a humanidade que
todos temos em comum. (…) O grande desafio é tentar criar empatia com seus
inimigos, tentar se colocar no lugar de gente com quem você discorda
completamente. É uma coisa muito valiosa de se fazer. Se imaginar no lugar de
outra pessoa não significa que você precisa concordar com ela. (...) É melhor
saber mais sobre isso do que saber menos.
Carlos Henrique Latuff de Sousa é chargista e ativista político
brasileiro
TEXTO III
No livro Tempos Líquidos, Bauman aprofunda os
diálogos sobre a modernidade líquida nas questões sócio-políticas. (...)
Primeiramente ele fala sobre as comunidades, grupos que remetem à busca de uma
convivência harmônica segundo regras de convívio. Para Bauman, esse conceito de
comunidade foi ultrapassado. Hoje, o que existe é uma versão compacta do “viver
junto” que quase nunca se concretiza, o que gera uma utopia que serve como
ideal para a parte vulnerável da sociedade: as chamadas “comunidades
estéticas”. Segundo Bauman, as comunidades estéticas são ajuntamentos de
pessoas com laços frouxos. Elas passam uma sensação de segurança, conforto,
união e cumplicidade, mas que não são mais que momentos para aliviar o sufoco
cotidiano de viver (são os clubes esportivos, os grupos étnicos, os coletivos artísticos,
os sindicatos, etc). “As minorias se investem do objetivo de fazer uma
comunidade para se protegerem da realidade líquida.” De uma forma geral, as
atuais relações profissionais, da mesma forma que as sociais, estão cada vez
mais fragilizadas e desvirtuadas. E o resultado, segundo Bauman, é sempre o
mesmo: carência de empatia, inconsistência e falta de comprometimento.
O incêndio da catedral evoca mais solidariedade que
a tragédia de um ciclone ou o genocídio negro brasileiro
Separados por apenas um mês, o ciclone que atingiu
Moçambique e outros países africanos e o incêndio na catedral de Notre-Dame, em
Paris, mostram como essa comoção seletiva não está restrita ao que ocorre em
nosso país. Atingindo 1 milhão de moçambicanos e com mais de mil mortos até
agora, o ciclone Idai destruiu cidades inteiras, que vivem uma tragédia
humanitária gravíssima. Há poucos dias, o incêndio na Notre-Dame tomou as redes
sociais e ocupou capas de jornais por todo o globo. Era possível perceber, e
com razão, a tristeza de ver um monumento histórico destruído pelo fogo.
Compartilho da comoção pela catedral histórica. O que choca é pensar por que o
desastre na África com milhões de vidas afetadas comove menos nossa sociedade
do que uma tragédia na Europa. (...)
PROPOSTA: Com base em suas percepções acerca da realidade e nas ideias presentes
nos textos de apoio, sobretudo, no fragmento: “O que choca é pensar por que o
desastre na África com milhões de vidas afetadas comove menos nossa sociedade
do que uma tragédia na Europa.”, escreva uma dissertação em prosa, sobre o
tema: Empatia – por que a morte de um impacta mais do que o
sem-número de mortes nos massacres mundiais?
Instruções:
. A dissertação deve ser redigida de acordo com a
norma padrão da língua portuguesa.
. Escreva, no mínimo, 20 linhas, com letra legível.
Não ultrapasse o espaço de 30 linhas da folha de redação.