Movimento que tem força principalmente
nas redes sociais, a cultura do cancelamento envolve uma iniciativa de
conscientização e interrupção do apoio a artistas, políticos, empresas, produtos ou personalidades públicas, devido à demonstração de algum tipo de postura
considerada inaceitável. Normalmente, as atitudes que geram essa onda dizem respeito ao ponto de vista ideológico ou comportamental.
Celebridades como Anitta, Bianca
Andrade, Alessandra Negrini e Kevin Hart foram alguns exemplos de “cancelados”
nas redes sociais. Hart havia sido escolhido para fazer uma performance na
cerimônia do Oscar de 2019, mas acabou não subindo ao palco porque foi
“cancelado”, depois que as redes sociais recuperaram uma série de piadas
homofóbicas que ele fez no começo da sua carreira.
Como tudo na vida, a cultura do cancelamento tem bônus e ônus. Como ponto
positivo, percebo a indignação das pessoas em relação a situações que antes
passavam despercebidas, como casos de preconceito, machismo e racismo (...). No entanto, o ponto negativo desse “movimento” está na
“anulação” por completo. Não há uma conversa, não há uma busca por se colocar
no lugar do outro. É claro que há atitudes que são deploráveis e até
criminosas. E, para usar outro termo da internet, não é preciso “passar pano”
acobertando erros. Mas a decisão de cancelar alguém, muitas vezes, pode ser
drástica demais.
Além dos seus usos mais tradicionais – como deixar de assinar um serviço
ou desmarcar um compromisso agendado – o verbo “cancelar” tem sido empregado
com frequência, recentemente, para pessoas. O ato de cancelar alguém costuma
ser aplicado a figuras públicas que tenham feito ou dito algo considerado
condenável, ofensivo ou preconceituoso. São inúmeros os exemplos de cancelados,
e a lista aumenta a cada semana.
O cancelamento é primeiramente decretado numa
rede social, onde gera uma onda de críticas e comentários. Depois estampa manchetes
e, normalmente, é seguido de uma retratação do cancelado, que pode ou não ser
acatada por seus críticos. Em 2019, o funkeiro MC Gui foi cancelado após postar
um vídeo no Instagram, no qual ri de uma criança, gravado em uma viagem à
Disney. No vídeo, que foi apagado, a menina está visivelmente incomodada. Acusado
de bullying nas redes sociais, o artista teve contrato e shows (literalmente)
cancelados, e publicou um vídeo de desculpas. (...)
O jornalista Osita
Nwanevu, em sua análise para a New Republic, defende que a novidade não esteja tanto na força do cancelamento, mas em quem está fazendo as críticas: “jovens
progressistas, muitas minorias, mulheres” que, em grande parte, devido às redes
sociais, “conseguiram um lugar à mesa, onde questões de justiça ou de etiqueta
estão sendo debatidas e estão fazendo barulho para recuperar o tempo perdido”.
Os impactos:
positivos, negativos e nulos
Muitos daqueles que
foram alvo de cancelamentos, ou que se solidarizam com pessoas que tenham sido
criticadas dessa forma, se queixam de uma perseguição inquisitorial que
cercearia o discurso e as ações de comediantes, artistas, políticos e
youtubers. Críticos apontam ainda que as reações muitas vezes alcançam
dimensões desproporcionais ou se dão sem base em fatos. “Não existe qualquer
zona cinzenta a partir da lógica do espetáculo”, pondera o doutor em psicologia
Leonardo Goldberg. “E a cultura do cancelamento entra nessa esteira de modo
completamente arbitrário, porque [faz parte] da lógica da não contradição, tão
presente na internet. Não existe conversa ou escuta”. “Acho que o [aspecto]
negativo é a forma como a gente lida numa certa cultura do ‘hater’, do ódio,
esquecendo que precisa fazer críticas mais embasadas e ter mais consciência
coletiva da nossa responsabilidade”, disse ao Nexo a colunista e feminista
Stephanie Ribeiro. Os efeitos da cultura do cancelamento, no entanto, são em
geral menos efetivos do que os “canceladores” poderiam desejar e do que os
“cancelados” costumam alardear. “Às vezes, é uma forma até meio rasa de lidar
com questões que são estruturalmente muito complexas”, afirma Ribeiro. “Não
vejo impactos muito reais em relação a manifestações virtuais que confrontam
comportamentos ou falas”. Ela cita o caso do jornalista William Waack, que foi
demitido da Rede Globo após o vazamento de um vídeo no qual fazia comentários
racistas, e teve sua contratação recentemente anunciada por uma nova emissora.
(...)
PROPOSTA DE REDAÇÃO: A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo sobre o tema: “A QUESTÃO DA CULTURA DO CANCELAMENTO NAS REDES SOCIAIS”. Apresente proposta de intervenção, que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.